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Se "o essencial é invisível aos olhos", como assegurava a mais célebre citação de Antoine de Saint-Exupéry, já o impressionante e contínuo sucesso editorial de "O principezinho" não necessita de grandes dotes de análise para ser detectado.
A obra com a qual Saint-Exupéry atingiu imortalidade literária, ainda que póstuma, foi inicialmente publicada nos Estados Unidos em 1943 em Inglês e Português, mas só chegou ao mercado francês três anos mais tarde, através da Gallimard. Num ápice, as aventuras do menino que vive no asteróide B612 e revela a sabedoria da infância a um piloto que aterra de emergência no deserto do Sahara tornaram-se um caso único de popularidade, que ainda hoje perdura (ver caixa).
Co-autora da série juvenil "Uma aventura", Ana Maria Magalhães atribui o êxito às características do próprio livro, "uma peça literária magnífica de grande sensibilidade". No entanto, a escritora, confessa "não ter percebido nada" quando o leu pela primeira vez, aos oito anos "É uma obra que pode ser lida por crianças, mas só mais tarde se compreendem as subtilezas de um livro tão rico. O ideal é que a criança o leia acompanhada de um adulto".
Céptica quanto ao rótulo de "livro infantil" está também Alice Vieira, a autora de títulos tão populares como "Lote 12, 2 frente" e "Graças e desgraças da corte de El-Rei Tadinho". "A linguagem poética" e "o tom profundamente pessimista" são os motivos que levam a escritora a afastar a associação da obra ao universo infantil, pese embora não exclua a sua leitura por crianças, desde que "os pais ou professores as ajudem a interpretar a obra".
França em festa
Em França, a Gallimard promete que a data festiva não irá passar despercebida. Além do lançamento de várias edições comemorativas - desde edições de luxo à publicação de ilustrações inéditas de Saint-Exupéry -, o destaque incide no livro "Era uma vez... o principezinho", em que escritores como Michel Tournier e Paul Auster recordam a primeira vez que leram a história e uma versão animada em CD com a voz do actor Bernard Giraudeau.
Espectáculos e exposições fazem também fazer parte da celebração de uma obra que o autor começou a planear com mais de uma década de antecedência. A favor desta tese, defendida por vários peritos na sua obra, está o facto de existirem desenhos da década de 1930 em que Saint-Exupéry esboçava já uma personagem de cabelo espetado, vestido com um manto e rodeado de estrelas.
Por cá, o sucesso do livro também é evidente. As reedições são uma constante, sobretudo as edições de bolso, e até as obras explicativas - casos de "Apontamentos Europa-América explicam Saint-Exupéry" ou "Uma leitura de 'O principezinho' 9º ano" - registam boa saída comercial. Por decidir está ainda o lançamento de obras comemorativas da efeméride.
A popularidade da personagem pode medir-se igualmente pela influência literária exercida sobre outros escritores. Os exemplos de obras directamente inspiradas em Saint-Exupéry avolumam-se desde "A profundidade e a superfície", de José Gil, a "Encontrei o principezinho - carta a Saint-Exupéry", de Jorge Cabral dos Santos, sem esquecer "Vida e morte do principezinho", de Paul Webster.