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Temas de Thelonius Monk, Pat Metheny e Ornette Coleman, entre outros, fizeram parte anteontem da ementa de abertura da 16.ª edição do Jazz no Parque na Fundação de Serralves, no Porto. Em palco, o quarteto liderado pelo baterista Matt Wilson, Arts & Crafts, composto por Ron Miles (trompete), Gary Versace (piano, teclado e melódica) e Dennis Irwin (contrabaixo e clarinete).
O concerto baseou-se no mais recente trabalho discográfico da banda, "The scenic route". Como facilmente pode constatar-se pelos temas que desfilaram, tratou-se de uma proposta multicolor, que atravessou diferentes períodos do , para assim podermos usufruir de um concerto de abertura particularmente vivo e, sobretudo, acessível.
É evidente que "We see", de Monk, com que se iniciou a performance, foi dos momentos mais marcantes de um fim de tarde flagelado por vento desagradável, mas que não impediu a fruição de um público que quase encheu o court de ténis de Serralves. "Bat", de Pat Metheny, foi outro instante sentido, uma balada que Matt Wilson dedicou a dois saxofonistas já desaparecidos, Dewey Redman e Michael Brecker.
Não podemos deixar de referir ainda "Rejoicing", onde de imediato saltou o fraseado peculiar de Ornette Coleman, numa altura em que está prestes a visitar-nos, o que acontecerá durante o próximo Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian. A música de Ornette desafia os nossos sentidos e coloca logo outra disposição nos músicos, que assumem outra liberdade para improvisar.
Como surpresa tivemos Dennis Irwin a sair do contrabaixo e a pegar num clarinete. Depois exprimiu-se num português bastante aceitável para nos comunicar que iria tocar um chorinho. A sua interpretação foi de nível superior, rumando de seguida para um samba. Um momento inesperado em que o jazz é tão pródigo.
Mas ainda houve tempo para a brincadeira. A propósito de um tema que lhe foi sugerido pelo professor de yoga, "Feel the sway", Matt Wilson mandou que toda a plateia se levantasse e, ao som de um baixo forte, semelhante ao de "A love supreme", de Coltrane, quis que toda a gente cantasse a frase que deu o nome ao trecho, de uma forma relaxada, numa espécie de sessão de yoga colectiva...
Apesar de termos assistido a um concerto recomendável, ainda por cima em clima mais ou menos festivo graças à permanente boa disposição de Matt Wilson, achamos que poderia pautar-se por bitola superior. "The scenic route", o álbum que serviu de base à actuação, foi gravado com um trompetista de outra galáxia relativamente ao que se descolou ao Porto, estamos a falar de Terell Stafford. Mas Ron Miles até cumpriu, escudando-se numa via mais cool, evitando assim arriscar em demasia. Também Gary Versace não dispôs de um órgão Hammond como acontece no disco, o que tornou as suas intervenções menos brilhantes.
O Jazz no Parque regressa no próximo sábado com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, reforçada com o baterista John Hollenbeck, o vocalista Theo Bleckman e o guitarrista André Fernandes.