Maria Boavida, 30 anos, jornalista free-lancer, está "em trânsito" de Paris para Nova Iorque, mas antes de mudar de vida optou por gozar umas férias em casa dos pais, no Lumiar, em Lisboa. Uma das boas surpresas que teve quando chegou foi descobrir que o renovado jardim da Quinta das Conchas, perto de casa, tinha acesso livre e gratuito à internet, através de uma parceria entre a Câmara de Lisboa e três operadoras. Mas foi "sol de pouca dura" recentemente, quando tentou aceder à net sem fios, na esplanada do café, com o seu computador portátil, não conseguiu.
"Ai é? Acabou? Que ridículo!", reagiu, indignada, ao JN, quando foi informada que o projecto "Jardins Digitais" - em funcionamento desde Novembro em 21 jardins e miradouros da capital - tinha mesmo acabado. "Era uma ideia tão boa. É uma pena que desfaçam", disse, mostrando-se esperançada em que o executivo municipal que aí vem - e que por acaso até tem esta medida no programa - retome o projecto.
"Espero que não o abandonem completamente porque é uma coisa que vai inevitavelmente acontecer. Por uma vez na vida, tenham um bocadinho de visão", pediu Maria, que lamenta a "pouca vida" dos jardins de Lisboa. Em seu entender, este tipo de iniciativas pode ajudar a que deixem de ser só os "velhos e as crianças" a utilizá-los.
Wilcharllys Gonçalves, responsável pela cafetaria e pelo restaurante da Quinta das Conchas, utilizou várias vezes a internet e conta que no café chegou a haver 10 pessoas ligadas em simultâneo. Embora os clientes não tenham ainda começado a queixar-se do fim deste projecto, este responsável admite que seria bom que continuasse. "Para quem tem tempo o lugar é gostoso. Sempre é melhor do que estar dentro de casa", diz, no seu português do Brasil.
Eliseu Almeida, 43 anos, só há pouco tempo é que soube da existência de internet à borla nos jardins. E, desde então, tem vindo a utilizá-la quando vai ao miradouro da Graça onde, esta semana, ainda havia ligação, apesar do cartaz de promoção já ter sido retirado. "É o máximo poder estar aqui na esplanada a mandar e-mail's e a navegar", disse, lamentando que o projecto venha a acabar. A Comissão Administrativa que gere a Câmara até às eleições explica que o protocolo com as empresas terminava em Junho.
Uma média de 20 acessos por dia, em cada um dos sete jardins que estavam sob alçada da Broadnet Portugal (a única empresa que se mostrou disponível para fornecer dados ao JN, em tempo útil). Foi este o balanço feito por Afonso Cascão, administrador, à participação da Broadnet no projecto "Jardins Digitais", que contou também com a participação da Zapp e da PT Wi-Fi para fornecer internet sem fios a 21 jardins e miradouros da capital. Embora faça um balanço positivo, Afonso Cascão admite que o projecto ficou aquém das expectativas, dado que não conseguiu alcançar os objectivos de mobilização dos utilizadores. O projecto resultou de um protocolo assinado, em Setembro do ano passado, pela Câmara de Lisboa com as três empresas e iria decorrer até Junho, altura em que seria objecto de uma avaliação. Era suposto que o Instituto Superior Técnico acompanhasse o projecto, averiguando a receptividade dos munícipes a este tipo de serviço e tecnologia, de modo a orientar os moldes em que a Câmara poderá investir nesta área num futuro. Mas, apesar de várias tentativas, o JN não conseguiu apurar se esse trabalho foi feito.
