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"Tintin no Congo", segunda aventura de Tintin, "velha" de 77 anos, volta a ser alvo de acusações de racismo, desta vez por parte de um congolês, residente na Bélgica, que avançou com um processo no Tribunal de Primeira Instância de Bruxelas contra a sociedade Moulinsart, que gere os direitos da obra de Hergé, exigindo a sua imediata retirada de circulação.
O autor da queixa, Mbutu Mondondo Bienvenu, considera o álbum "racista e xenófobo", acrescentando que "foram estas teses racistas que serviram de suporte às descriminações sociais, às segregações étnicas e a actos de violência como os genocídios". E acrescenta que Hergé reconheceu que o álbum podia ter essa leitura quando disse "que, na sua época, não podia deixar de considerar os negros como crianças grandes", afirmando "não ser mais racista que os seus contemporâneos", reclamando, por isso, indemnização de um euro.
Esqueceu-se, no entanto, de que Hergé também afirmou "não gostar dos colonialistas", fez diversas alterações quando remodelou o álbum para a versão colorida, em 1946, e que condenou claramente o tráfico de escravos negros em "Carvão no Porão".
Acusação que se repete
Há semanas, uma acusação semelhante por parte da Comission for Racial Equality da Inglaterra levou "Tintin no Congo" (publicado pela primeira vez em Portugal sob o título "Tim-tim em Angola", a ser mudado, nas livrarias da cadeia Borders, da secção infantil para a de adultos, tendo as vendas disparado.
Há alguns dias, foi a vez de o editor sul-africano de Tintin, a Human & Rousseau, renunciar à sua publicação em africânder, "por se ter apercebido de que publicação na língua dos opressores brancos podia ser mal interpretada", e o grande editor Penguin informava que a difusão naquele país, da versão em inglês de "Tintin no Congo", conteria um aviso informando os leitores do "carácter racista" de algumas das suas cenas.