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Coimbra, 22 Abr (Lusa) - Um oficial que participou no assalto ao Quartel de Beja, em 1962, disse hoje que a reintegração dos revoltosos no Exército, após o 25 de Abril, não foi acompanhada de compensações pelo seu afastamento compulsivo.
"A nenhum de nós foram pagos quaisquer retroactivos ou indemnizações. Estamos felizes!", lamentou, com ironia, o coronel Eugénio Oliveira, recordando que a insurreição de civis e militares previa o derrube de Salazar e a instauração de um regime democrático sob a liderança do general Humberto Delgado.
Eugénio Oliveira salientou que, na sequência da sua participação na Revolta de Beja - que outro operacional dos acontecimentos, o coronel Pedroso Marques, negou ter sido um "assalto" - foi expulso do Exército, tal como os outros militares revoltosos e condenado, em Tribunal Plenário, a três anos de prisão, acabando ao todo por cumprir cinco anos de cadeia.
"Pela primeira vez, oficiais das Forças Armadas foram entregues à PIDE (a polícia política do Estado Novo). E, pela primeira vez, presos políticos tiveram o cabelo rapado", afirmou o antigo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa.
Eugénio Oliveira e Manuel Pedroso Marques intervieram hoje, no Arquivo da Universidade de Coimbra (UC), no colóquio "Oposições ao Estado Novo", organizado pelo Centro Interdisciplinar do Século XX (CEIS 20) da UC, em que também usou da palavra Camilo Mortágua, evocando a sua participação no assalto ao paquete Santa Maria, outra acção revolucionária que abalou a ditadura, em 1961.
"O julgamento do assalto de Beja foi uma autêntica farsa", sublinhou Eugénio Oliveira, lembrando ainda que, até 25 de Abril de 1974, quando triunfou a Revolução dos Cravos, teve sempre "dois 'pides' a vigiarem as traseiras" da sua casa.
Por seu turno, Pedroso Marques defendeu que a Revolta de Beja deve ser designada não como "assalto" mas antes como "acção militar armada" na qual estiveram envolvidos alguns civis, como Manuel Serra e Edmundo Pedro.
"Não foi um assalto, porque os militares de Beja abriram-nos a porta do quartel", explicou.
Pedroso Marques, ex-presidente do conselho de administração da Agência Lusa, confirmou que a insurreição de 1962 contou com a participação de sete oficiais do quadro permanente das Forças Armadas (três dos quais estavam dentro do quartel), além do general Humberto Delgado, ex-candidato à Presidência da República, que passou a noite dos acontecimentos em Beja, onde entrara clandestinamente.
No colóquio promovido pelo CEIS 20, intervieram ainda, entre outros historiadores e docentes universitários, Luís Reis Torgal, a brasileira Heloísa Paulo, Luís Farinha, Armando Malheiro da Silva, João Madeira e Susana Martins.
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