
Mário CArvalho, fundador do "Indústria" reabre o "Pérola Negra", agora como discoteca
Adelino Meireles / Global Imagens
"A moda é cíclica e não só no que vestimos". A afirmação é do empresário nortenho Mário Carvalho que, esta sexta-feira, abre as portas do "Pérola Negra", na Rua Gonçalo Cristóvão, no Porto, com um conceito transversal a várias gerações.
Onde funcionou um dos mais famosos clubes de striptease do país, a partir desta sexta-feira, há uma nova discoteca para quem tem saudades de dançar.
Com a decoração-base de outros tempos, datada de 1991 - os espelhos, os varões, as bolas de cristal e os sofás vermelhos mantiveram-se -, o "Pérola Negra" quer "marcar a diferença" na Baixa da Invicta pelas mãos de quem conhece bem o negócio. Mário Carvalho foi o fundador da discoteca "Indústria", na Foz, ainda a funcionar, agora, noutras mãos e "num conceito mais underground".
"Queremos recuperar o espírito de discoteca dos anos 80, em que as pessoas saíam cedo - por isso a ideia é abrir às 23 horas e às 24 fazer um pequeno espetáculo e show de luzes de abertura de pista como antigamente -, com música mais revivalista e bastante dançável a arrancar", antecipa Mário Carvalho ao JN, confessando que "é altura de se recuperar o que era feito há vinte anos".
O público-alvo será acima dos 25, pois "existem outras casas para os mais jovens, embora tudo muito igual". "Sendo perto da confusão, o Pérola Negra está afastado até para fazer uma seleção de ambiente", acrescenta o anfitrião, empenhado em devolver a mística ao roteiro noctívago da Invicta.
Rock na agenda
Com o mesmo nome e o propósito de sempre, existem outros estabelecimentos a funcionar de norte a sul do país e nas ilhas há tantos anos que, depois dos pais, são agora os filhos a somarem histórias na pista ou em seu redor.
Na próxima quarta-feira, "O Batô", em Leça da Palmeira, comemora o 45.° aniversário. Continua a ser uma referência no que respeita a rock n"roll e a prova é que, já amanhã, oferece um tributo aos "The Cult".
Não muito longe, tendo em conta os acessos rápidos, em Santo Tirso, a "Pedra do Couto" existe há quase 34 anos. Apesar das constantes remodelações, tem como lema "recordar é viver" e muitas festas temáticas a recuarem até quase às origens. Aproveitando o caminho, Braga é quase logo a seguir, com o "Sardinha Biba" a servir, desde 1990, de palco à diversão da comunidade universitária, nos dias úteis, e local de culto a um público mais adulto aos fins de semana.
No centro, mais propriamente em Aveiro, a "Estação da Luz" abriu em 1987 e é um exemplo de contínuo sucesso. Situada numa vivenda em Quintãs, também aposta em hits dos anos 80/90, além de house comercial e música ao vivo.
O rock é o som que identifica a "States", em Coimbra, reaberta em setembro, três meses depois de ter fechado portas com "futuro incerto", sem perder o conceito que a distingue desde 1984.
O peso da tradição
Em Lisboa, a oferta é maior, mas entre as discotecas mais antigas estão o "Plateau" e o "Kremlin" que, curiosamente, estão separadas apenas por dois números nas Escadas da Praia, na zona de Santos-o-Velho. O primeiro espaço celebrou, no dia 11, o 33.° aniversário, sem alterar a linha inicial com pop rock e música dos anos 80 variada, num ambiente com motivos indianos e veludos com padrões de leopardo e dourado.
Fundado em 1988, o "Kremlin" esteve cinco anos fechado, reabrindo no verão com "o glamour do antigamente adotado aos nossos tempos", frisaram os responsáveis no regresso que devolveu o porteiro como aquele que "manda na casa", algo que foi desaparecendo com o tempo.
A mesma filosofia é partilhada pelo novo "Pérola Negra", a norte, e defendida ainda pelo presidente da Associação das Discotecas de Lisboa, José Gouveia, para quem "o que falha ainda muitas vezes não é a qualidade das casas, mas sim a falta de culto da noite".
"Hoje em dia, com o aumento da procura, a exigência diminuiu e o sair à noite foi banalizado. Antes, as senhoras arranjavam-se quase como que se fossem a um casamento, enquanto agora os jovens não têm cuidado com o que vestem. A geração dos anos 90 quando sai sente-se deslocada. O fenómeno das zonas privadas nas discotecas, em que as pessoas parece que estão num ringue, também tem afastado muita gente", frisa o empresário.
A sul, as apostas sazonais tornaram as ofertas efémeras, mas há ainda quem resista ao tempo e sirva de ponto de encontro a amigos no Algarve, como a "Kadoc", em Boliqueime, que o ano passado assinalou as bodas de prata. É uma das maiores discotecas do país, reunindo DJ nacionais e internacionais bastante conhecidos. Abre assiduamente no verão, enquanto a "Black Jack" no Casino de Vilamoura funciona todo o ano para um público mais exigente. Atravessando o Atlântico, no centro do Funchal, o "Vespas Club" é assumido como a catedral da noite madeirense desde 1980, estreitando a distância entre a região insular e o continente com festas que levam muitos visitantes até ao local.
