Donald Trump classificou a sua adversária democrata, Kamala Harris, de "marxista" e acusou-a de não ter planos económicos próprios, copiando políticas do atual presidente, Joe Biden. Rejeitou ainda qualquer ligação ao Projeto 2025, um polémico programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores.
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"Ela não tem um plano. Ela copiou o plano de Biden e resume-se a quatro frases. Quatro frases que são apenas 'vamos tentar reduzir os impostos'. Ela não tem programa", disse Donald Trump durante o primeiro debate entre os dois candidatos na cidade norte-americana de Filadélfia, quando se falou se economia.
"Ela é marxista. Todos sabem que ela é marxista. O pai dela é um professor marxista de economia, e ele ensinou-a bem", declarou o republicano sob o olhar atento de Harris, que sorria e abanava a cabeça enquanto ouvia o magnata falar.
O ex-presidente já havia feito ataques pessoais semelhantes contra Harris e evocou na terça-feira o pai da vice-presidente, Donald Harris, com origens humildes e que obteve um doutoramento na Universidade da Califórnia, Berkeley, além de se tornar professor em Stanford.
No debate de terça-feira, o ex-presidente voltou a afirmar que a inflação nos Estados Unidos é "provavelmente a pior da história" norte-americana, uma falsa alegação que a imprensa norte-americana rapidamente clarificou, embora assinalando que a inflação durante o corrente Governo de Biden tem sido maior do que o normal nos últimos anos.
"Eu criei uma das maiores economias da história do nosso país. Eles destruíram a economia", acrescentou Trump, prometendo que se voltar à Casa Branca irá restaurar a economia do país.
Segundo a verificação da CNN, Donald Trump mentiu 33 vezes e Kamala Harris fez afirmações falsas uma vez.
O Projeto 2025
Ainda nos primeiros momentos do debate, após acusações de Kamala Harris, Donald Trump recusou qualquer ligação ao Projeto 2025, um polémico programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores caso o republicano regresse à Casa Branca, qualificando algumas das propostas como "boas e outras más".
"O que vocês ouvirão hoje à noite é um plano detalhado e perigoso chamado Projeto 2025, que o ex-presidente pretende implementar se for eleito novamente", disse Kamala Harris.
"Como vocês sabem, e como ela sabe, não tenho nada a ver com o Projeto 2025. Isso está aí, eu não li. Não quero ler, propositadamente. Não vou ler", assegurou Trump.
O Projeto 2025, promovido pela Heritage Foundation, um "think tank" de extrema-direita, propõe um roteiro para uma mudança radical na Administração norte-americana se Trump vencer as eleições de 05 de novembro.
Os seus planos incluem o desmantelamento de várias agências do Governo federal e a demissão de milhares de funcionários públicos para os substituir por pessoas leais a Trump que, sem objeções, aplicariam uma agenda radical.
Apesar de Trump negar qualquer vínculo com esse projeto, um levantamento feito pela CNN internacional indica que pelo menos 140 pessoas que trabalharam no Governo do magnata estavam envolvidas com o Projeto 2025 de alguma forma.
"Estivemos a limpar a porcaria deixada por Trump"
A candidata democrata Kamala Harris prometeu uma "economia de oportunidades" com um corte fiscal para famílias jovens e para pequenas empresas. "Fui criada na classe média e sou a única pessoa aqui esta noite que tem um plano para elevar as pessoas da classe média na América", afirmou Kamala Harris, ao ser questionada sobre o estado da economia.
Harris também cunhou o termo "IVA do Trump" para descrever o que serão os efeitos da taxa de 20% que o republicano quer impor a bens importados. "Isso resultaria em despesas de mais quatro mil dólares por ano" em média para as famílias, apontou a democrata, acusando-o de querer dar cortes de impostos aos ricos às custas da classe média.
O seu plano de cortes fiscais, afirmou, oferece benefícios de seis mil dólares para famílias jovens e de 50 mil dólares para pequenas empresas. "Tenho um plano para a economia de oportunidades", declarou a candidata democrata, contrastando a sua "paixão pelas pequenas empresas" com o plano de Donald Trump de voltar a cortar os impostos às empresas e milionários.
"Trump deixou-nos o pior desemprego desde a Grande Depressão, a pior epidemia de saúde pública num século e o pior ataque à nossa democracia desde a guerra civil", acusou Kamala Harris.
"Estivemos a limpar a porcaria deixada por Trump", continuou, afirmando que Trump "não tem um plano" para as pessoas e que os economistas avaliaram negativamente a sua proposta de tarifas.
Citou em particular como críticos do impacto das propostas de Trump a casa de invstimento Goldman Sachs, a escola de gestão Wharton e dezenas de laureados com o Nobel da economia que fizeram um abaixo-assinado conjunto."A administração Trump resultou num dos défices mais elevados da história", apontou.
Kamala Harris e Donald Trump defrontaram-se na terça-feira, pela primeira vez, num histórico debate presidencial que poderá definir a corrida à Casa Branca.
Sediado pela rede ABC News, o debate decorreu no National Constitution Center, em Filadélfia, e foi regido pelas mesmas regras que foram ditadas para o histórico debate de junho entre Trump e o atual Presidente e ex-candidato democrata, Joe Biden, que acabou por desistir da corrida após um fraco desempenho nesse confronto.
Os jornalistas da ABC News David Muir e Linsey Davis moderaram o debate - o único agendado até ao momento entre Donald Trump e Kamala Harris, pelo que poderá ser a primeira e única vez que os eleitores verão os dois políticos num frente-a-frente antes da eleição geral.