Nada de pele à mostra: Cannes 2025 proíbe transparências e impõe glamour com regras
Transparências, decotes e volumes exagerados estão fora da passadeira vermelha do Festival de Cannes, que arranca esta terça-feira. Regras dividem opiniões e colocam arte, imagem e liberdade de expressão no centro da cena.
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É oficial: Cannes 2025 não quer pele a mais à vista, nem vestidos de contos de fadas na passadeira vermelha. O festival francês, símbolo do cinema de autor e da ousadia estética, decidiu apertar o código de vestuário, com regras bem explícitas.
Divulgado esta segunda-feira, o novo regulamento estabelece que, “por motivos de decência, a nudez é proibida na passadeira vermelha, assim como em qualquer outra área do festival”.
Vestidos transparentes, decotes pronunciados, caudas longas, silhuetas volumosas, mochilas, ecobags e malas grandes estão oficialmente vetados. A justificação? Estas peças dificultam a circulação dos convidados e complicam o acesso às salas de cinema.
A orientação foi publicada na secção de perguntas frequentes do site oficial e é para ser aplicada. Assim, quem não cumprir o código fica à porta, pois a equipa de segurança tem ordens para impedir o acesso, independentemente do estatuto do convidado.
A medida remete diretamente para celebridades como Bella Hadid, ícone do "naked dress", que já desfilou com um modelo castanho translúcido e outro preto em que o peito era coberto apenas por um colar em forma de pulmão.
Para os filmes exibidos no Grand Théâtre Lumière, na Croisette, o traje continua a ser formal ou black tie: vestidos longos, fatos escuros e nada de sapatilhas. A sala, que leva o nome dos irmãos Lumière, os pioneiros do cinema, exige um nível de formalidade que mantém a aura de sofisticação do evento.
O objetivo do novo regulamento, segundo a organização, é assegurar a fluidez do evento e proteger o seu “prestígio visual”. Mas nem todos concordam.
Críticos e comentadores culturais consideram que o novo código representa um retrocesso, reforçando uma visão conservadora sobre o corpo feminino. Há também quem veja nestas regras uma forma subtil de reduzir a presença de modelos e influenciadoras na Croisette, que nos últimos anos têm dividido os holofotes com atores e realizadores.
Esta não é a primeira vez que Cannes se vê envolto em polémicas sobre dress code. Em 2015, várias mulheres foram barradas por usarem sapatos rasos. Kristen Stewart protestou em 2016 com sapatilhas e, em 2018, descalçou-se na passadeira vermelha. Há dois anos, Jennifer Lawrence apareceu de chinelos. E, em 2024, a apresentadora Massiel Taveras foi travada pelos seguranças por usar um vestido com a imagem de Jesus Cristo pintada na cauda.
As grandes questões que se colocam agora são: os seguranças vão mesmo travar uma estrela de Hollywood por causa de tule a mais ou a menos? E se o vestido “proibido” disser mais do que mil palavras? O Festival de Cannes arranca esta terça-feira e prolonga-se até 24 de maio.