Lá diz o adágio que não é possível ter sol na eira e chuva no nabal. Aplicando a sabedoria popular às notícias destes dias, não é possível pagar menos impostos e ter um Serviço Nacional de Saúde eficiente. Se pagarmos menos impostos, os serviços públicos terão pior qualidade. Para termos melhores serviços públicos, os impostos terão de ficar no nível em que estão e, provavelmente, teremos até de pagar mais.
Como é evidente, nenhum partido assumirá tal heresia, muito menos em período de campanha eleitoral. Por maiores que sejam as evidências, como se comprova pelo ano que passou: Luís Montenegro prometeu, enquanto candidato, essa quadratura do círculo, mas enquanto primeiro-ministro não cumpriu. É verdade que reduziu alguns impostos (embora a carga fiscal tenha subido), mas continua a aumentar o número de utentes sem médico de família.
Convém desconfiar, portanto, da propaganda com que seremos bombardeados nos próximos dois meses. À Direita, ouviremos dizer que há condições para baixar impostos e que os problemas da Saúde se vão resolver com parcerias público-privadas, como se os empresários fossem filantropos. À Esquerda, que os impostos vão ficar como estão, mas que, com melhores salários, pagos com notas nascidas na árvore das patacas, haverá filas de médicos prontos a engrossar as fileiras do SNS.
A verdade é outra. Da mesma forma que os cidadãos comuns são obrigados a fazer escolhas, também os políticos que nos querem representar têm a obrigação de o fazer e de as apresentar com clareza. E, finalmente, o eleitor decidir o que é para si mais importante: poupar alguns euros por mês em impostos e correr o risco de bater com o nariz na porta da urgência; ou continuar a contar os mesmos tostões até ao fim do mês, mas ter maiores garantias de que terá a consulta ou a cirurgia a tempo e horas.

