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Há mais de um ano que os migrantes não saem da agenda política, o que tem provocado um considerável aumento do racismo e da xenofobia no nosso país. A extrema-direita tem instrumentalizado o tema com alarmismo e o PSD tem ido atrás, claramente para lhe roubar espaço. É eticamente reprovável que os migrantes, que são pessoas de carne e osso, que procuram uma vida melhor como tantos milhões de portugueses fizeram ao longo de gerações, estejam a ser instrumentalizados, como se não tivessem dignidade nem emoções.
O recente anúncio de 18 mil notificações e quase cinco mil expulsões de migrantes em plena campanha eleitoral não foi mais que uma demonstração de força que contribui para aumentar a sua estigmatização, e, portanto, também a sua vulnerabilidade e insegurança, tornando-os alvos fáceis da xenofobia, do racismo e de formas de violência física e verbal, além de criar maior tensão na sociedade.
O verdadeiro problema não será tanto o número de imigrantes, mas a forma negligente como são tratados pelo Estado, que devia ser célere na sua regularização e fazer uma fiscalização efetiva das suas condições de trabalho e de habitação, combatendo a exploração e as redes de tráfico e de oportunistas que sempre pululam em torno do fenómeno migratório. Devia também fazer um esforço sério para criar vias seguras e legais para controlar os fluxos migratórios e pôr de pé um sistema de vistos célere e eficaz nos postos consulares.
O grande paradoxo é que, enquanto o Governo faz gáudio dos seus anúncios de expulsão, várias organizações da sociedade civil alertam para a necessidade de mais de cem mil imigrantes para suprir as carências de mão de obra. A verdade é que, hoje, quem precisa de trabalhadores tem muito mais dificuldades em os arranjar.
Por isso, a retórica política transforma-se em irresponsabilidade e insensibilidade, porque cria problemas para o país por afetar diretamente o dinamismo da economia, e para as pessoas, porque despreza a dimensão humana dos migrantes que são visados.
Nenhuma controlo e gestão das políticas migratórias é incompatível com padrões éticos e humanistas, que respeitem a pessoa que está por detrás de cada migrante, o que é também uma forma de contribuir para a tranquilidade e segurança do país.