Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Tinha 91 anos.
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Nos últimos anos, o JN entrevistou várias vezes a "Celeste dos Cravos", como era conhecida na freguesia de Santo António, no coração de Lisboa, onde viveu durante muitos anos. Na edição de 25 de Abril de 2013 foi mesmo capa da edição do JN, que remetia para uma peça onde contava toda a sua epopeia naquele dia da revolução, que, como sempre disse, nunca pensou que ficasse na História da revolução e do país.
Celeste Caiero contou então que, na altura, com os seus 40 anos, trabalhava num restaurante da Rua Braancamp, que nesse dia 25 de abril de 1974 assinalava um ano de existência. "O patrão tinha comprado uns cravos para assinalar o aniversário, mas, por causa da revolução nesse dia já não abrimos. Ele disse-me que levasse os cravos, que já não seriam precisos", recordou.
Sem perceber bem o que se estava a passar, Celeste desceu a Avenida da Liberdade até ao Rossio e subiu a Rua do Carmo para dar de caras com os soldados e a multidão que já andava pelas ruas. Foi ali que perguntou a um soldado o que se estava a passar e para onde é que eles iam. "Disse-me que iam para o Chiado prender o Marcelo Caetano", contou.
O cravo em vez do cigarro
D. Celeste acrescentou que o militar lhe pediu um cigarro: "Disse-lhe que tabaco não tinha, que a única coisa que lhe podia oferecer era um cravo. Ele aceitou e colocou a flor na ponta da espingarda". A verdade é que os camaradas que estavam a seu lado também lhe pediram cravos e todos os colocaram na ponta das G3. O momento seria imortalizado por um repórter fotográfico, que espalhou por toda a parte este momnento único.
Horas depois as floristas da zona imitaram Celeste e começaram também a oferecer cravos vermelhos. E, assim, num ápice, o golpe de Estado português que pôs fim a 48 anos de ditadura ficou para sempre, em Portugal e no Mundo, conhecido como a "Revolução dos Cravos".
Na sua discreta figura, de 1.5 metro de altura e sorriso fácil, D. Celeste ficou conhecida para sempre como a "Celeste dos Cravos". Filha de mãe espanhola, mal conheceu o pai, e era a mais nova de três irmãos. Viveu quase toda a vida em Lisboa, até que a saúde se começou a deteriorar e se mudou para perto da família. Morreu esta sexta-feira, levando um testemunho histórico, que, por várias vezes, detalhou ao JN.
Celeste Caeiro, que se eternizou como símbolo de Abril ao distribuir cravos pelos militares na manhã da revolução, esteve presente, este ano, no desfile da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, em Lisboa. Na ocasião, reproduziu o momento de forma simbólica, voltando a distribuir cravos aos presentes.