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Antes de mais nada: 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!
Façamos um desvio: afirmo por vezes, enquanto defensor acérrimo da língua portuguesa, que o inglês, transformado em língua franca (aquela que se entende em todo o Mundo e com que todo o mundo se tenta entender) por pelo menos três fatores – o Império Britânico, Hollywood e o rock’n’roll –, é mais seco, menos rico do que o nosso camoniano linguajar. Estas verdades são uma treta, e pela boca morre o peixe. Em português não temos a subtileza de conceitos de que dispõem os anglófonos, ao distinguir entre “liberty” e “freedom”, palavras que, traduzidas para o nosso idioma, resultam apenas em “liberdade”.
Em inglês, enquanto “liberty” pode significar os direitos de uma comunidade, regrados e equilibrados, “freedom” remete mais para a capacidade de fazermos o que nos der na veneta. Se pensarmos no processo revolucionário de 1974-1976 (não confundir com o PREC), uma misturada de “freedoms” teve corolário na aprovação da “liberty” tipificada pela Constituição, feita por uma assembleia eleita faz hoje 50 anos, na votação mais concorrida de sempre. Embora os esquerdistas mais impenitentes considerem que não houve revolução, pois apenas a entendem se representar a transição para uma qualquer forma de socialismo e para a até hoje nunca conseguida sociedade sem classes, houve-a pelo simples facto de termos substituído uma ditadura por uma democracia, com todas as profundas transformações sociais a isso inerentes, algo que a exacerbada “freedom” de rédea solta do PREC mais do que certamente não alcançaria.
Ora, “freedom”, nesse sentido de vale-tudo, é a prática que, paradoxalmente, permite à extrema-direita ganhar expressão, embora almeje uma sociedade sem liberdade. É o vale-tudo que permite dizer quase na mesma frase algo e o seu contrário, desde que seja útil, amar, quando morto, um Papa que se odiou quando estava vivo, mentir sistematicamente, semear ódio... enfim, tudo porque as nossas sociedades ocidentais, alienadas pelo consumismo, pelo acesso descontrolado ao crédito ou pela cultura de boçalidade e desinteresse, esqueceram que é obrigação de cada um de nós, dia após dia, lutar pela preservação da preciosa “liberty”.
Dito tudo isso, voltemos à casa de partida: 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!