Mais de 400 mortos no "inferno na Terra": civis, crianças e uma médica entre as vítimas de Gaza

Campo de refugiados de Nuseirat, em Gaza, foi atacado esta quarta-feira de manhã, 19 de março de 2025
Foto: Eyad Baba / AFP
Quebra unilateral do acordo de cessar-fogo em Gaza, por parte de Israel, provocou a morte de mais de 400 palestinianos e deixou várias centenas feridas. Civis e crianças entre as vítimas mortais.
As forças israelitas quebraram unilateralmente o cessar-fogo que vigorava no enclave palestiniano desde 19 de janeiro e bombardearam, na terça-feira, todo o território, numa ação musculada que ocorreu sem aviso e que foi descrita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como "inferno na Terra". Mais de 400 pessoas morreram e 660 ficaram feridas nos ataques, prevendo-se que o número de vítimas continue aumentar.
Família massacrada na Cidade de Gaza
Ramy Abdu, presidente do Monitor Euro-Mediterrânico de Direitos Humanos (organização não governamental com sede em Genebra), perdeu a irmã depois de a casa onde vivia com a família, na Cidade de Gaza, na parte norte do enclave, ter sido bombardeada durante a madrugada de terça-feira. De acordo com a "Al Jazeera", que tem reportado as perdas, a família havia sobrevivido a vários ataques aéreos israelitas ao longo de vários anos e viu a casa e o bairro onde vivia serem destruídos por bombas iraelitas no início da guerra. Escaparam sempre. Até aos ataques mais recentes. Nesreen morreu. Os filhos pequenos, Omer e Layan, também. O filho adulto, Ubaida, e a sua mulher e filhos também.
Médica humanitária é uma das vítimas em Rafah
Cerca de meia hora depois da morte da família Abdu, no norte, uma médica de Gaza e a sua família foram assassinados, no sul do território. Majda Abu Aker, especialista em obstetrícia e ginecologia, a trabalhar numa clínica da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA), e mais de uma dúzia de pessoas morreram num ataque aéreo israelita no bairro de al-Jenaina, em Rafah. Pelo menos dez das vítimas mortais - todas identificadas pelas autoridades - eram da mesma família, incluindo várias crianças (a mais nova era uma menina de três anos).
Mais civis mortos em ataques no sul de Gaza
Outras 15 pessoas, a maioria da família Barhoum, também morreram no sul de Gaza, em al-Mawasi, na cidade de Khan Younis. A área foi designada como "zona humanitária" pelos militares israelitas durante a guerra, mas isso não impediu que aviões de guerra atacassem repetidamente a região.
Perto dali, na cidade de Abasan, localizada a leste de Khan Younis, seis pessoas da mesma família foram mortas enquanto fugia das bombas. O carro onde seguiam foi atingido e destruído diretamente por um ataque aéreo, matando toda a gente, reportaram jornalistas da "Al Jazeera" no local.
Também em Khan Younis, no sul, outra família ficou enlutada depois de duas crianças pequenas (Bisan e Ayman) terem sido mortas por bombas israelitas.
"Os meus filhos morreram de fome"
Num vídeo captado em Khan Younis, e cuja veracidade foi verificada pelas agências de notícias, uma mulher palestiniana gritava em lágrimas a morte do marido e dos filhos. "Os meus filhos morreram de fome. Juro por Deus que eles não encontraram comida para o 'suhoor', a minha filha morreu em jejum sem 'suhoor'”, clamou, referindo-se à refeição feita antes do amanhecer durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão.
Jabalia devastada
Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, foi devastada na terça-feira: as bombas israelitas destruíram vários prédios, provocaram uma cratera enorme no chão e atiraram partes do corpo de um homem para uma árvore. O campo de refugiados da cidade foi sujeito a um dos ataques mais mais destrutivos desde o início da escalada da guerra em Gaza, no dia 7 de outubro de 2023.
O exército israelense matou pelo menos 48 mil palestinianos e feriu outros 112 mil no enclave palestiniano desde então. Milhares de pessoas desaparecidas ou sob os escombros poderão elevar o número real de vítimas mortais para mais de 61 mil.

