A abstenção teria sido significativamente mais reduzida em território nacional, 25% em vez dos quase 34% nestas legislativas, se não fossem os eleitores-fantasma que rondam um milhão, afirmou José Santana Pereira, investigador no ISCTE, ao JN. Em causa estão os não residentes que continuam nos cadernos eleitorais.
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"Podemos rever em baixa a abstenção em território nacional, que ronda os 34% oficiais, para um valor de cerca de 25%", adiantou José Santana Pereira, que atualizou o impacto deste fenómeno juntamente com João Bernardo Narciso, que é também do ISCTE, e com João Cancela, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Ou seja, a abstenção sem o peso daqueles eleitores que estão a mais nos cadernos passa de cerca de um terço para um quarto, segundo a estimativa feita pelos três autores do que pode ter sido a taxa real.
À volta de um milhão de eleitores-fantasma assombrou as legislativas, eleitores que não residem em Portugal mas permanecem nos cadernos, nomeadamente emigrantes.
Um estudo divulgado em novembro passado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos apontou para um desvio de 11,4% em 2021 entre os eleitores e a população residente com cidadania portuguesa, com 18 anos ou mais. São 1,060 milhões de pessoas a mais inscritas no recenseamento. Sem elas, também a abstenção nas legislativas de 2022 teria sido significativamente mais baixa, 35% em vez de 42%.
A propósito da redução da abstenção nas eleições de domingo, que já foi a baixa em quase três décadas, José Santana Pereira começa por elogiar o aumento muito significativo da participação eleitoral, cerca de 750 mil votos a mais em relação a 2022, que contrasta com a tendência registada em 2019. E lembrou que, nas legislativas de há dois anos, já tinha descido de forma mais modesta, num importante sinal em tempos de pandemia da covid-19.