A PSP deteve 11 ativistas do Climáximo após um protesto que bloqueou a segunda circular, em Lisboa, esta terça-feira de manhã. Dois dos manifestantes estiveram pendurados num viaduto durante duas horas e foram retirados pelos bombeiros sapadores. Os ativistas vão estar presentes a tribunal na quarta-feira
Corpo do artigo
Ativistas climáticos do coletivo Climáximo bloquearam, esta terça-feira de manhã, a segunda circular, impedindo momentaneamente a passagem do trânsito no sentido Benfica-Aeroporto, junto às Torres de Lisboa, onde se encontra a sede da Galp. Dois dos manifestantes penduraram-se com cordas de escalada numa ponte pedonal da Galp, sobre a mesma estrada, e só foram retirados depois das 11 horas, mais de duas horas após o início do protesto. "O Governo e as empresas declararam guerra à sociedade e ao planeta", podia ler-se na faixa que seguravam.
Ao JN, fonte do Climáximo confirmou que os 11 ativistas detidos pela PSP vão estar presentes a tribunal na quarta-feira de manhã, pelas 10 horas, no Campus de Justiça, em Lisboa.
Os dois jovens foram retirados com a ajuda de um carro de bombeiros do regimento Sapadores de Lisboa. Foram os últimos a ser retirados do local. No momento da detenção, os ativistas resistiram ao cruzar as pernas, acabando por ser carregados pelos braços por polícias. Segundo o coletivo, os ativistas foram levados para a esquadra de Benfica, onde esteve a decorrer uma vigília de solidariedade até que todos fossem libertados.
No total, foram detidas 11 pessoas, das quais duas estiveram duas horas penduradas no viaduto e outros nove bloquearam momentaneamente a segunda circular, sentados pacificamente no chão e a segurar um cartaz a apelar ao fim dos combustíveis fósseis. No começo da ação, perto das 9 horas, os manifestantes estiveram sentados por breves instantes no outro lado da segunda circular (no sentido Aeroporto-Benfica), mas acabaram por ser puxados para a berma da estrada pelos próprios automobilistas que por ali passavam.
Em plena hora de ponta, a ação de desobediência civil criou perturbações ao trânsito no sentido Benfica-Aeroporto. Uma das ativistas do protesto terá sido agredida por um motociclista que ficou retido no protesto. Segundo o coletivo, uma das ativistas foi atropelada por um motociclista, acabando por ficar ferida numa perna. Alguns condutores que passavam contestavam a ação.
“Cada catástrofe [natural] é um ataque que os governos e as empresas fósseis cometem contra as pessoas. Sabemos que estão a construir um novo aeroporto e um gasoduto e que continuam a mentir sobre planos que não cortam emissões [de gases com efeito de estufa] nem de longe nem de perto dos limites [aconselhados] pela ciência”, sublinhou, ao JN, Noah Zino, uma das porta-vozes da ação, ainda antes de serem detidos.
Foi o alerta mais recente da Organização das Nações Unidas (ONU) que os trouxe, esta manhã, à rua. “As emissões [de gases com efeito de estufa] mataram nove milhões de pessoas em 2021. É um genocídio. Não é possível compactuar em normalidade e agir como se tudo estivesse normal”, acrescentou a ativista.
Quanto ao risco que correram com a ação, Noah Zino considerou que é “bastante menor do que a crise climática que se enfrenta”. “As pessoas que estão penduradas [na ponte pedonal] têm medo. Nós temos medo. Nós não queríamos estar aqui. Queria estar a estudar, queria estar trabalhar como as pessoas que estão aqui connosco. Mas reiteradamente existem decisões por parte do Governo e das empresas que condenam o futuro e o presente das pessoas que vivem neste país”, resumiu.
António Assunção criticou o facto de os governos e empresas conheceram há décadas o impacto negativo que a exploração de combustíveis fósseis tem no bem-estar das populações e que tem culminado na atual crise climática, e ainda assim continuarem a financiar a indústria. “Neste momento está a acontecer um genocídio. Em Portugal, todos os anos pessoas morrem com o calor e os incêndios. O Governo e as empresas fósseis declaram-nos guerra ao não fazerem nada contra isso. Por dia, 3,3 milhões de euros são dados à indústria fóssil em Portugal”, apontou o porta-voz e ativista.
Questionado se o grupo de ativismo por justiça climática está a escalar a sua resposta como ações de desobediência civil como a de esta manhã, António Assunção apelou que “é necessário agir” coletivamente com toda a sociedade civil. “Já reunimos com ministros, já bloqueámos refinarias e estradas, já invadimos ministérios e já interrompemos ministros, já invadimos a Galp várias vezes. Contudo, nada está a mudar. Precisamos que as pessoas se juntem a nós. Esse é o passo essencial para trazer a mudança”, advertiu.
A Equipa de Prevenção e Reação Imediata (EPRI) do comando metropolitano de Lisboa foi chamada para ajudar a desmobilizar o protesto. No momento em que a PSP e a EPRI controlavam o trânsito apenas numa faixa, nove ativistas tentaram bloquear a estrada uma segunda vez, tendo logo sido arrastados para o passeio. A repressão policial foi violenta.
Depois de identificados, ativistas foram detidos, puxados e arrastados um a um para uma carrinha da EPRI da PSP. A PSP não prestou declarações aos jornalistas que se encontravam no local.
Recorde-se que na semana passada este grupo de ativistas climáticos cobriram a entrada da Feira Internacional de Lisboa (FIL) de tinta vermelha enquanto decorria o “World Aviation Festival”, um evento dedicado à área da aviação. No dia anterior, ativistas da Greve Climática Estudantil (GCE) atiraram ovos misturados com tinta verde contra o ministro do Ambiente e da Ação Climática durante uma conferência patrocinada pela Galp e pela EDP.