Socialistas são esta sexta-feira e sábado chamados a escolher o sucessor de António Costa na liderança do PS: Pedro Nuno Santos, José Luis Carneiro e Daniel Adrião estão na corrida. Um deles será eleito amanhã 9.º secretário-geral do PS.
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Pedro Nuno Santos, o "enfant terrible"
Integra o grupo dos “jovens turcos” do PS que ajudaram António Costa a vencer a liderança contra António José Seguro, em 2014, e que estão ideologicamente situados na ala esquerda do partido. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que assumiu este cargo a 26 de novembro de 2015, foi quem negociou e coordenou a inovadora geringonça que permitiu ao líder socialista governar com o apoio parlamentar do Bloco e do PCP. E agora volta a usar este trunfo na corrida interna.
Pedro Nuno Santos, que ganhou a fama de “enfant terrible” dentro do PS e do Governo, sempre alimentou a ambição de chegar à liderança. Foi em janeiro de 2017, que, numa entrevista, se começou a posicionar como alternativa a Costa, acenando com "uma nova fase de negociação à esquerda". E, quando deixou o Executivo, o seu regresso meses depois ao Parlamento e a sua estreia, já em outubro, como comentador da SIC Notícias foram vistos claramente como um trampolim para uma corrida interna que acabou por ser antecipada com a demissão de Costa a 7 de novembro.
Demitiu-se de ministro das Infraestruturas, em dezembro do ano passado, após nova polémica com a TAP, pressionado a explicar se sabia ou não do acordo de rescisão e da indemnização de 500 mil euros à ex-administradora Alexandra Reis.
A sua saída já tinha sido equacionada em junho daquele ano, após ter avançado uma solução para o novo aeroporto que não estava concertada com o primeiro-ministro. Apesar de registar o “erro grave", Costa segurou o ministro.
O economista de São João da Madeira, de 46 anos, foi líder da JS e chegou a deputado em 2005. O seu lado de "enfant terrible" ficou patente num episódio ocorrido quando era vice-presidente da bancada socialista, durante o Governo de Pedro Passos Coelho. Num jantar de Natal do PS, em 2011, lançou uma frase que ficou célebre: "Estou-me marimbando que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida".
José Luís Carneiro: segurista foi número dois de Costa
Nascido no concelho de Baião em 1971, a sua primeira experiência com o movimento associativo foi no grupo de jovens da paróquia de Campelo. Em 1994, licenciou-se no curso de Relações Internacionais na Universidade Lusíada do Porto e o interesse pelos estudos africanos levou-o depois para Lisboa, onde terminou em 1998 o seu mestrado no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi então que enveredou pelo jornalismo porque o semanário Independente foi àquele instituto recrutar alguém que pudesse escrever sobre os países africanos de língua oficial portuguesa. Ficou sempre ligado à Universidade Lusíada e começou a dar aulas no polo de Lisboa.
A entrada no mundo partidário deu-se em 1993 quando proferiu uma conferência em Baião durante uma visita de António Guterres, na altura líder socialista. Nas eleições autárquicas de 1997, foi número dois da lista do PS e assumiu o lugar de vereador da oposição na câmara liderada pelo PSD.
Foi em 1999 que se estreou no Governo, como assessor no Ministério da Administração Interna. Precisamente a pasta que agora ocupa como ministro. Entre 2000 e 2002, foi chefe de gabinete da bancada socialista.
No plano autárquico, foi pela primeira vez cabeça de lista a Baião em 2001 mas o PS voltou a perder. A vitória chegou quatro anos depois, com José Luís Carneiro a ser eleito presidente da Câmara.
Apoiante convicto de António José Seguro, o ex-líder da Distrital do Porto foi convidado para o primeiro Governo de António Costa em 2015 para secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. E, após as legislativas de 2019, o líder chamou-o para secretário-geral adjunto do PS. Em abril de 2022, tomou posse como ministro da Administração Interna e agora assume o desafio de concorrer à liderança com a promessa de dialogar à esquerda e ao centro.
Daniel Adrião: o candidato resistente que persiste
Líder de uma corrente alternativa do PS, com 56 anos, já é repetente nestas andanças. É a quarta vez que assume este desafio e tem sido o rosto da única oposição organizada, ou pelo menos assumida, dentro do partido. Foi já candidato em 2016, 2018 e 2021.
Defensor de eleições primárias, uma das posições que o distingue dos restantes é o facto de defender que o secretário-geral do PS não deve ser o candidato a primeiro-ministro. Considera que o partido devia apostar em Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, para as legislativas. Aliás, este foi o nome que António Costa sugeriu ao presidente da República para assumir o cargo de primeiro-ministro interino e evitar eleições antecipadas.
Tem liderado a oposição interna a António Costa e é membro da Comissão Nacional e da Comissão Política Nacional, desde 2016. Foi consultor de comunicação e também jornalista no Semanário. É atualmente professor de Ciência Política no ISCTE e lidera a Educanology, uma startup que promove a inovação educativa.