Agente que disparou sobre Nahel M. foi acusado de homicídio voluntário. Marcha pacífica, em Nanterre, terminou em confrontos entre autoridades e manifestantes.
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O polícia que disparou sobre Nahel M., de 17 anos, na sequência de uma operação Stop, na cidade de Nanterre, situada a cerca de 15 minutos de Paris, foi, esta quinta-feira, presente a tribunal, sendo acusado de homicídio voluntário. O agente de 38 anos fica, por decisão do juiz, em prisão preventiva.
O procurador Pascal Prache já tinha considerado que o motociclista tinha disparado de forma abusiva, ao considerar “que não estavam reunidas as condições legais para a utilização da arma”.
Mesmo com o anúncio da decisão judicial, não ficou claro para as autoridades se os atos de vandalismo decorrentes das manifestações iriam acalmar. O Ministério do Interior anunciou, na tarde desta quinta-feira, a mobilização de 40 mil agentes para a região da Ilha de França, de modo a dar resposta a situações de descontrolo como as que ocorreram na madrugada anterior – quando pelo menos 180 pessoas foram detidas e 170 polícias ficaram feridos.
As manifestações, que ficam, mais uma vez, marcadas por situações de violência, resultando em incêndios em edifícios públicos e na via pública, iniciaram-se na terça-feira em Nanterre. No entanto, a contestação rapidamente escalou para outras para cidades, como é o caso de Toulouse e Lille, uma vez que o caso reacendeu a controvérsia sobre a atuação da polícia, nomeadamente em bairros desfavorecidos.
"Agiu de acordo com a lei"
Na tarde desta quinta-feira, Mounia, a mãe do jovem assassinado, organizou uma “marcha branca”, que terminou na Praça Nelson Mandela, em Nanterre, na qual mais de seis mil pessoas estiveram presentes para pedir “Justiça para Nahel”. A caminhada pacífica acabou, contudo, sob tensão.
A polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, apesar de, assinala a Imprensa francesa, não ter ficado claro o que motivou a intervenção das autoridades. Numa entrevista à televisão France 5, a progenitora de Nahel M. esclareceu que não culpa a polícia francesa pelo crime: “Eu culpo aquele que tirou a vida do meu filho. Ele viu a cara de um árabe, quis tirar a vida dele”, fundamentou.
Por outro lado, um dos advogados do atirador, Laurent-Franck Liénard, defendeu, em declarações à estação de rádio RTL, que o polícia “disparou o tiro que considerou necessário, com a arma que lhe foi dada pelo Estado para garantir a sua segurança e a dos cidadãos”. O responsável pela defesa do agente referiu ainda que este “agiu de acordo com a lei”.
O exercício de força excessivo por parte da polícia francesa fez com que o país alcançasse, no ano passado, um recorde de 13 mortes na sequência de recusas de obediência a ordens, mas o episódio que roubou a vida de Nahel M. está a tomar repercussões gigantescas e já é comparado ao caso de George Floyd – o afro-americano que, em 2020, foi assassinado por um agente em Minneapolis, nos EUA.
Num editorial, o “Le Monde” escreveu que “este ato também foi cometido por um polícia, foi filmado e transmitido quase ao vivo, envolvendo um representante emblemático de uma categoria socialmente discriminada: um homem de um bairro social”.
Sonhava ser mecânico
Dois dias após a morte de Nahel M., sabe-se pouco sobre o rapaz. Segundo os principais jornais do país, o menor era cidadão francês com ascendência argelina e marroquina.
Vivia sozinho com a mãe numa zona pobre da periferia de Paris e tinha o sonho de ser mecânico. Um dos advogados da família da vítima assegurou que o adolescente não tinha antecedentes criminais, o que está em linha com as conclusões preliminares das autoridades, que dão conta de que o Mercedes AMG amarelo onde seguia quando foi morto não transportava qualquer material ilícito.
O promotor que está a investigar o caso não detalhou, porém, se o menor possuía carta de condução quando foi intercetado. Em França, a idade mínima legal para conduzir é 18 anos.