Papa Francisco “feliz” em Lisboa pede “união” para enfrentar desafios globais
No arranque da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Papa Francisco afirmou que a “maré de jovens” em Lisboa é um motivo de esperança, pedindo que sirva de inspiração para enfrentar, em união, os desafios atuais.
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“Lisboa, abraçada pelo oceano, oferece-nos motivos para esperar. Há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora”, afirmou o Santo Padre, em italiano, sentado, em palco, com o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, perante uma sala cheia num encontro com as autoridades, a sociedade civil membros do corpo diplomático e líderes dos partidos politicos, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Evocando o oceano como porta que liga “povos e países, mas também terras e continentes”, Francisco apelou à união para se fazer frente aos desafios globais que a humanidade enfrenta atualmente. “Parece que as injustiças planetárias, as guerras, as crises climáticas e migratórios correm mais rapidamente do que a capacidade e, muitas vezes, a vontade de enfrentar em conjunto tais desafios”, lamentou.
Nesta reflexão sobre como o mundo precisa de uma “Europa construtora de pontes e pacificadora no Leste Europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente”, o sumo pontífice apelou à paz, pedindo ao velho continente que siga o “espírito de diálogo” que o caracteriza para criar “vias inovadoras” capazes de acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos outros conflitos que “ensanguentam o Mundo”. As palavras foram muito aplaudidas pela sala.
Nesse seguimento, o Santo Padre manifestou preocupação com o futuro da humanidade, alertando que a tecnologia que marcou o progresso e globalizou o mundo, por si só, não basta”. “Fica-se preocupado ao ler que, em muitos lugares, se investem continuamente os recursos em armas e não no futuro dos filhos”, exemplificou. “Temos de trabalhar pelo bem comum”, resumiu.
Numa nota mais positiva, Francisco confessou estar feliz por visitar a capital portuguesa, aproveitando o momento para agradecer o acolhimento do maior encontro de jovens católicos do Mundo. “Estou feliz por estar em Lisboa. Cidade do encontro que abraça vários povos e cultura e que, nestes dias, se mostra ainda mais universal”, saudou. Num discurso em que a palavra oceano foi repetida várias vezes, Francisco evocou escritores de renome portugueses, desde o histórico Luís Vaz de Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa, a Saramago. “Lisboa tem cheiro de flores e de mar”, citou, em português, uma das letras da fadista Amália mais conhecidas, com um sorriso no rosto.
O Papa Francisco terminou a intervenção ao enumerar três “estaleiros de construção da esperança” em torno dos quais espera que a humanidade possa trabalhar em união: o ambiente pela preservação da “nossa casa comum”, o futuro “que são os jovens” e a fraternidade. Ideias que tem vindo a evocar ao longo do seu tempo como chefe de Estado do Vaticano.
O sumo pontífice não deixou, por isso, de salientar os medos que os jovens enfrentam na atualidade. “Muitos fatores os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de construir família e trazer filhos ao Mundo”. Francisco deixou ainda uma crítica à eutanásia. “Paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que usam e descartam”, afirmou.
O Papa Francisco está de regresso a Portugal para participar, até domingo, na JMJ, após a última visita pastoral que celebrou o centenário das Aparições de Fátima, em 2017.