Primavera Sound bateu dois recordes na sexta-feira. São o melhor e o pior de sempre
Lana Del Rey deu ao festival do Porto a sua maior afluência em 11 anos: 40 mil pessoas num dia. Montagem ineficiente fechou Palco Vodafone: é a maior mancha da sua história. Cancelamento dos Justice não dá direito a devolução do bilhete. Shellac Listening Party e atuações de Pulp, Arca e Gel mantêm-se este sábado.
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A montagem inábil do Palco Vodafone, com risco de aluimento parcial por excesso de peso, foi a razão que provocou a inoperacionalidade durante toda a sexta-feira da segunda maior estrutura de atuações do Primavera Sound Porto 2024, que tem mais três palcos. A informação foi obtida pelo JN junto de fonte com participação ativa no maior festival de música do Norte e Centro do país, que este sábado entra no terceiro e último dia, no Parque da Cidade.
O erro de cálculo entre a capacidade de suporte do palco e a quantidade de material técnico que lhe foi aportada para a atuação da banda francesa Justice, cuja nova tournée contém armações e materiais de luz e som mais pesados, conduziu à anulação naquele local dos quatro espectáculos programados para o dia — Justice e os portugueses The Legendary Tigerman, Classe Crua e Mutu.
Outras informações apuradas pelo JN referem a alegada quebra de pelo menos um cabo de segurança no palco, o que não foi possível confirmar, apesar de solicitado. O acesso à estrutura já estava vedado com grades quando o recinto abriu ao público, às 15.45 horas.
O JN teve ainda conhecimento, através da mesma fonte, de outra alusão: alegadamente, as deficiências na estrutura do palco não estarão diretamente relacionadas com o mau tempo. Choveu efetivamente esta sexta-feira, cerca de 50 minutos, entre as 17 e as 18 horas, com granizo e trovoada, mas a bátega só manteve intensidade durante cerca de 20 minutos. Supostamente, a gravidade dos problemas no Palco Vodafone teria sido detetada ainda durante a parte da manhã.
O cancelamento total do cartaz de um dia em palcos grandes do Primavera Sound Porto nunca acontecera em 11 edições, figurando agora como a maior mancha no currículo do festival organizado pela Pic-Nic Produções SA.
O caso ensombrou um outro recorde, esse extremamente positivo e que espelha a popularidade crescente do certame: o Primavera registrou a 7 de junho de 2024 a sua maior audiência de sempre: 40 mil pessoas. A cabeça de cartaz era a californiana Lana Del Rey, que atuou no Palco Porto, criado no ano passado e que é agora o maior dos quatro do festival.
Razões e explicações pendentes
Oficialmente, a direção do Primavera Sound Porto ainda não explicou o problema, ou problemas que afetaram o Palco Vodafone, e declinou pedidos de entrevistas. Também não revelou, nem quis comentar, as suas causas.
Os dois curtos comunicados que publicou nas suas redes sociais, em diferentes momentos da tarde de sexta-feira, não esclarecem cabalmente a questão.
No primeiro, que duas horas depois de publicado foi apagado, refere, sem especificar, “problemas de segurança”. No segundo, anunciou: “Infelizmente, todos os concertos previstos para hoje [7 de junho] no Palco Vodafone foram cancelados”. E ainda: “Lamentamos o transtorno e agradecemos a vossa compreensão”.
Anexada à comunicação, veiculou “a mensagem que Justice partilhou connosco”.
O duo francês de electrónica revela que nada teve a ver com o assunto: “Devido a questões técnicas imprevistas para lá do nosso controlo”, não houve condições para atuar, “apesar dos melhores esforços da nossa equipa e do festival”. Mesmo que alheio ao problema, o grupo de Gaspard Augé e Xavier de Rosnayf pediu “desculpas pelo desapontamento e por qualquer inconveniente causado”.
Fãs desiludidos reclamam
Dois dos quatro espetáculos no Palco Vodafone foram reagendados: os Mutu tocaram nessa mesma noite, mas no palco vizinho Super Bock; e The Legendary Tigerman tsubirá palco este sábado, em local e horário a anunciar.
Justice e Classe Crua ficaram anulados sem recuperação.
O cancelamento dos cabeças de cartaz franceses, que prometiam um espetáculo vistoso de luzes, pirotecnia digital e som, está a originar nas redes sociais do Primavera Sound Porto um número crescente de mensagens com desapontamentos, reclamações e pedidos de mais esclarecimentos ao festival, nomeadamente sobre a possibilidade de devolução do bilhete e recuperação do valor pago — o bilhete diário custa 75 euros (mais taxas); o passe geral de três dias 195 euros (mais taxas).
Não há devolução de dinheiro
Os termos e condições gerais definidos pelo promotor do Primavera Sound Porto, Pic-Nic Produções SA, estão, conforme a lei, publicitados no site oficial do festival. Perante os contornos até agora conhecidos do caso, os termos são taxativos: não haverá direito a qualquer devolução de dinheiro.
O ponto 1.1 dos termos diz que “só haverá direito a reembolso em caso de cancelamento do evento”, o que não é obviamente o caso.
O ponto 1.2 esclarece as regras nos cancelamentos parciais: "Independentemente do tipo de bilhete adquirido (passe geral ou bilhete diário), o evento só se considera cancelado se for suspensa mais de metade das atuações programadas”.
Também não é o caso: em 48 artistas programados para esta edição do Primavera, apenas foram cancelados quatro espetáculos: Justice, Mutu, Lankum e Shellac.
Os norte-americanos Shellac não atuaram devido ao falecimento do seu vocalista Steve Albini, mas foram substituídos por uma Listening Party. É este sábado, às 19h25, e consta da audição integral do último disco do grupo, “To all trains”, lançado em maio. Os irlandeses Lankum, que não vieram quinta-feira por “motivos familiares imprevistos”, foram substituídos pela espanhola Maria Hein.
Palco Vodafone já estará hoje operacional
Além da homenagem aos Shellac, o Palco Vodafone receberá este sábado os três artistas programados. A reabertura não será comprometida pelas atuações previstas, já que são todas convencionais e sem pesos extra na estrutura: Gel (17.45 horas), Pulp (21.55 horas) e Arca (1.25 horas).
O cartaz do último dia do 11.º Primavera contém ainda outros 12 espetáculos. São, por ordem de entrada em cena, os seguintes:
Tiago Bettencourt – Palco Super Bock, 16.35 horas
Best Youth – Palco Porto, 16.45 horas
Expresso Transatlântico – Palco Plenitude, 17.40 horas
Joanna Sternberg – Palco Super Bock, 18.30 horas
Mannequin Pussy – Palco Porto, 18.40 horas
Soluna – Palco Plenitude, 19.35 horas
Lisabö – Palco Super Bock, 20.35 horas
Ethel Cain – Palco Porto, 20.50 horas
Billy Woods – Palco Plenitude, 21.55 horas
The National – Palco Porto, 23.30 horas
Conjunto Corona – Palco Super Bock, 23.30 horas
Arca – Palco Vodafone, 1.25 horas
Mandy, Indiana – Palco Plenitude, 1.35 horas