À integridade ética das explicações que Luís Montenegro procurará prestar hoje no Parlamento, a extrema-direita continua a contrapor o achincalhamento como forma de destruir a política parlamentar pela tentativa de criar a percepção de que a sua poluição interna é algo que se esquece ou que se varre para debaixo do tapete dos outros. A imprevisibilidade não existe no comportamento de André Ventura. Perante casos monstruosos, penosos ou pitorescos, todos de gravidade aumentada pela sociopatia e pelo manual de comportamentos desviantes que demonstram, a reacção é sempre a de falar mais alto enquanto se atira a tudo o que mexe ao redor. E assim nasce mais uma moção de censura que só desacredita os incautos que ainda credenciam nuvens de fumo.
Sobre a falta de decência e sobre não esquecer. O Chega pode querer esquecer que um seu deputado municipal, Nuno Pardal Ribeiro, apoiava a castração química de pedófilos depois de ter tido relações sexuais com um menor de 15 anos a troco de 20 euros. Pode querer fazer esquecer que essa mesma pessoa fazia parte do Grupo de Trabalho da Assembleia das Crianças de Lisboa, enquanto está envolvida num esquema de prostituição de menores agravada. Quererá fazer esquecer que o deputado Miguel Arruda furtava malas em aeroportos, armazenando-as no seu gabinete na Assembleia da República para depois vender roupas furtadas online. O mesmo deputado que declara “pertencer” ao neonazi Mário Machado.
Esquecer também que o seu deputado Raul Melo ameaçou de todas as formas e feitios um militante do partido com impropérios que não se podem escrever em jornais e cuja versão mais benigna é “vais levar no focinho”. Esquecer que o deputado João Tilly renega as suas origens e diz querer nivelar a escola por cima, abandonando os alunos com deficiência ou necessidades especiais, atirando lama à Escola Inclusiva. Quererá esquecer as escandalosas declarações e ofensas proferidas contra a deputada Ana Sofia Antunes, assim como toda a misoginia, impropérios, insinuações e insultos dirigidos às mulheres no Parlamento. Um pântano, feito grupo parlamentar, que procura arrastar a democracia para um ponto sem retorno, tantas vezes perante a inusitada complacência do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
Talvez que a boçalidade continue a ser premiada com votos. Assim como a demagogia, encontra pontos comuns nas conversas de café. Mas esta violência promovida pela extrema-direita está vista e revista e, agora, finalmente denunciada por todos. Foi preciso descer muito baixo para que todos os partidos parlamentares acordassem do sonho de que os extremistas usariam amaciador. A degradação foi este caminho. Como acontecerá hoje, uma vez mais, durante o “debate” da moção de censura.
*o autor escreve segundo a antiga ortografia

