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Perante a conivência internacional com o genocídio na Palestina, doze ativistas decidiram meter-se num barco e levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Seis franceses, um espanhol, um brasileiro, um turco, uma alemã e a sueca Greta Thunberg partiram em missão humanitária, num veleiro carregado com mantimentos, medicamentos, próteses pediátricas, leite de fórmula e filtros de água. O objetivo era quebrar o cerco que perdura há dois meses e que está a matar os habitantes de Gaza à fome, já que, se os estados e as organizações internacionais falham por cumplicidade (EUA), por conivência (UE) e por incapacidade (ONU), cabe aos cidadãos preservar o que nos resta de humanidade.
A missão anterior da Freedom Flotilla Coalition foi esmagada pelo Estado de Israel, que matou dez ativistas impunemente, em águas internacionais. Desta vez, os tripulantes do Madleen, além de levarem uma das mais conhecidas e celebradas ativistas do clima a bordo, montaram uma providencial campanha de redes sociais, em que reportavam o progresso da missão, apelando às pessoas que seguissem o barco em direto e que fossem um “escudo protetor”. Chamando a atenção para a causa palestiniana e para as ameaças à embarcação, criaram uma onda de solidariedade que engrossou o levantamento de consciências que cresce nas últimas semanas, em paralelo com a Marcha Global para Gaza e a caravana de ativistas e ajuda humanitária que partiu da Tunísia.
Em poucos dias, o Estado de Israel ameaçou e cumpriu, sequestrando os doze ativistas a poucas milhas de Gaza. E se à hora a que vos escrevo ainda não sabemos o seu paradeiro e não temos reações à altura dos nossos representantes, reforçámos a certeza reforçada de que Israel conta, de facto, com uma inabalável impunidade. Só isso explica que se sinta no direito de sequestrar cidadãos, na maioria europeus (entre eles uma eurodeputada), numa embarcação civil de bandeira inglesa, em águas internacionais, como se nada fosse. Sendo que, depois de oito décadas de ocupação violenta do território palestiniano, de quase dois anos de genocídio (massacrando crianças, mulheres, paramédicos e jornalistas, dizimando todos os hospitais e impedindo a entrada de comida, água potável e medicamentos) e do bombardeamento de países vizinhos, como o Líbano ou a Síria, sem consequências, Netanyahu sabe que pode (realmente) tudo!
Acontece que, apesar de a arrogância Israelita apregoar que acabou com o “show” do “barco das selfies”, a missão do Madleen foi cumprida. O levantamento popular pela libertação da Palestina ganhou muita força nas últimas horas e as manifestações, as missões humanitárias, as petições, os boicotes e as campanhas vão crescer até chegar às cúpulas, até ser impossível continuar a fingir que não estamos perante o segundo holocausto, até os nossos representantes fazerem finalmente alguma coisa, nem que seja para tentar ficar do lado certo da História no último segundo.