As autoridades marroquinas, em colaboração com as polícias espanholas e a Polícia Judiciária (PJ), detiveram este domingo em Tânger, Marrocos, Fábio Loureiro, conhecido como Fábio "Cigano", um dos evadidos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus. Hoje completa-se um mês da fuga dos cinco reclusos.
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A operação policial internacional foi desencadeada em menos de 24 horas e contou com o apoio do Cuerpo Nacional de Polícia espanhol e da Direção Geral de Vigilância Territorial Nacional marroquina, "com base em informação credível da PJ, de que Fábio Loureiro estaria em Marrocos, sobre quem recaía um mandado de detenção internacional emitido pela autoridade judiciária competente, constando de notícia vermelha na Interpol", informou esta segunda-feira a PJ.
Fábio Loureiro será agora apresentado às autoridades judiciárias de Marrocos para ser extraditado para Portugal para efeitos de cumprimento de pena.
Quem é Fábio "Cigano"?
Nasceu a 10 de agosto de 1991 e cresceu num bairro social, em Poço Partido, na freguesia do Carvoeiro, no concelho algarvio de Lagoa. Ainda era menor quando começou a estar debaixo de olho das autoridades. Assumiu o comando de um gangue juvenil quando o cabecilha, conhecido por “Fábio Cigarrinho”, foi detido em Espanha.
Foi arguido e investigado em vários processos de furtos, roubos, posse de arma, tráfico de droga, tráfico de pessoas e lenocínio de menores, muitos deles investigados pela Polícia Judiciária de Faro e de Portimão.
Era referenciado pelas autoridades como perigoso. Costumava andar sempre com várias armas, uma das quais uma kalashnikov, e a conduzir carros de alta cilindrada. Espalhava o terror em vários assaltos violentos, como aconteceu em julho de 2011, quando disparou vários tiros de metralhadora contra uma casa, na localidade de Purgatório, Albufeira, onde estavam várias pessoas, incluindo um bebé de seis meses. O motivo terá sido um ajuste de contas.
Conseguiu escapar a várias operações policiais, montadas para apanhá-lo, chegando a disparar na direção de elementos policiais. Foi capturado algumas vezes, mas acabava por ser libertado por falta de provas.
Em julho de 2011, Fábio foi detido em Évora numa operação de combate ao tráfico, mas ficou em liberdade porque a posse dos 11 quilos de haxixe apreendidos foi assumida por um amigo.
Numa outra situação, foi condenado a sete anos e meio de prisão por assaltos a residências no Algarve, mas ficou em liberdade a aguardar a decisão do recurso. Em agosto de 2012, foi detido em Odemira, no Alentejo, onde estaria a passar férias com um grupo de amigos. Ficou em prisão preventiva e acabou condenado a pena efetiva.
O que mudou depois da fuga de Vale de Judeus?
A fuga de Vale de Judeus abanou o sistema prisional. O diretor-geral dos Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa Gonçalves, e o subdiretor com o pelouro da segurança, Pedro Veiga Santos, demitiram-se e Carlos Moreira foi nomeado diretor da cadeia de Vale de Judeus, que estava sem liderança desde julho.
Também foram revistos os procedimentos a adotar em caso de fuga. Para evitar a demora verificada a 7 de setembro, os serviços atualizaram os contactos e agora qualquer evasão de uma prisão tem de ser imediatamente comunicada aos Centros de Comandos da PSP e GNR, ao chefe de piquete da PJ e ao Ponto Único de Contacto para a Cooperação Policial Internacional do Sistema de Segurança Interna.
A ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, anunciou logo após a fuga de Vale de Judeus diversas auditorias ao sistema prisional. Uma delas, a ser feita pelo Serviço de Auditoria e Inspeção da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, tinha de ficar finalizada num mês. Todavia, a estar concluída, desconhece-se o resultado.
Na sequência da fuga dos cinco reclusos, o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional promoveu para esta segunda-feira, às 11 horas, uma concentração junto à cadeia de Vale de Judeus. A iniciativa, explica o sindicato, visa “demonstrar a união e o apoio do corpo da guarda prisional aos colegas do estabelecimento prisional de Vale de Judeus”. A manifestação pretende, ainda, “demonstrar que existem problemas transversais a todos os estabelecimentos prisionais”.