O homem que o Ministério Público diz ter sido torturado ao longo de nove horas na GNR dos Carvalhos, em Gaia, declarou que foi algemado a uma cadeira, agredido com uma mangueira e ameaçado com uma arma no interior do posto por vários militares, que não conseguiu identificar, para que confessasse o furto de uma viatura.
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“Insultaram-me muito. Ameaçaram-me sei lá quantas vezes. Chamaram-me nomes. Cabr**. Filho da p***. Drogado. Disseram-me que não ia sair dali enquanto não dissesse onde estava a carrinha. Cheguei a ficar inconsciente”, referiu Paulo Ribeiro, de 29 anos, durante a segunda sessão do julgamento que decorreu ontem no Tribunal de São João Novo, no Porto, em que nove militares, um deles já na reforma, respondem por tortura e sequestro. O ofendido, que negou a prática do furto do veículo de um antigo guarda, seu vizinho, contou, por videoconferência, a partir de Aveiro, que as agressões ocorreram “várias vezes” no interior de duas salas, uma delas sem janela, e também no hall de entrada do posto, a 25 de agosto de 2019.
Não soube, no entanto, precisar quem foram os agressores. Perante a insistência do presidente do coletivo de juízes para que fizesse um esforço, apenas conseguiu caracterizar um guarda, que disse que era “careca” e estaria na casa dos “40 a 50 anos”, vestido à civil. Paulo Ribeiro menorizou até as agressões cometidas por José Miranda, o cabo aposentado a quem tinha sido furtada a carrinha, e que foram relatadas por outros três militares na primeira sessão de julgamento, dizendo que as mais graves foram praticadas por outros guardas.