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A primeira vez que fui a Madrid, pequenito, coincidiu com a designação de Juan Carlos de Bourbon pelo Generalíssimo Franco como seu sucessor na chefia do Estado, com a consequente restauração da monarquia. Franco duraria mais meia dúzia de anos. Juan Carlos nunca foi politicamente brilhante como Franco. Herdou uma nação que procurava transitar para uma democracia liberal, transição assegurada através da governação de centro-direita do magnífico político e homem de bem que era Adolfo Suárez. O rei, porém, esteve à altura aquando de uma tentativa canhestra de um “putsch” militar nas Cortes. Fardou-se e assegurou à Espanha um futuro europeu e democrático. Ficou para a história a imagem de um parlamento agachado diante dos tiros de Tejero Molina, salvo Suárez, imperturbável na sua cadeira de presidente do governo, e talvez Santiago Carrillo do Partido Comunista. Nunca mais a Espanha teve à frente dos seus prolixos governos um tipo com o carácter moral de Suárez.
Seguiu-se a alternância, no poder e em escândalos, do PSOE e do PP. Embora de origens políticas distintas, o socialista Gonzalez e o social-democrata português Cavaco Silva entenderam-se perfeitamente. Gonzalez tinha uma enorme consideração por Cavaco que elogiava constantemente, e para irritação deste, ao camarada Soares, então presidente da República: “es muy competente”. Uma mentirola parva do antigo inspector de finanças José Maria Aznar, então presidente do governo, entregou a nação a um “novo” PSOE e a um “novo” Partido Popular. Cada um, à sua maneira, foi contribuindo para o atomismo partidário e separatista que instalou nos últimos anos, muitas vezes anti-monárquico, e que culmina esta semana na indigitação de novo presidente por Felipe VI.
Isto na sequência de uma eleição vencida nas urnas pelo PP, mas parasitada por Sánchez que aliar-se-á ao diabo nacionalista para continuar. Prepara-se, pois, uma perigosa declinação da nossa “geringonça” de 2015, com putativas alianças parlamentares com ex-terroristas, separatistas e xenófobos, como o grupelho “Junts”, cuja “presidenta” afirmou “existirem pessoas que, pelo seu aspecto físico ou pelo seu nome, não parecem catalães”. Ou com os ditos por não ditos do sr. Sánchez quanto a amnistias a separatistas bascos e catalães para se manter no poder a qualquer custo. Ficando, por exemplo, nas mãos de condenados como Puigdmont.
Só Felipe VI poderá evitar que a antiga nação catolicíssima seja entregue àquilo a que Fernando Savater apelidou de “seita de magos que supostamente nos protegem dos ultras”. Nós já conhecemos asnos destes, complacentes, há oito anos. Apesar de tudo, uns carneiros mal mortos ao pé do arrivismo “sanchista”. Deus proteja a Espanha.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia