
Houve uma “explosão do autocaravanismo e Portugal sofreu uma invasão, mas não se está a conseguir adaptar”
Foto: Pedro Granadeiro / Arquivo
Chegam 250 mil por ano, mas são precisas mais estruturas para não perder turistas para mercados concorrentes
Todos os anos cruzam a fronteira entre 200 e 250 mil autocaravanas, mas se o país não criar condições para lhes dar resposta, pode perder riqueza, alerta a Federação Portuguesa de Autocaravanismo (FPA), que pede mais estruturas de apoio bem localizadas. Os alugueres continuam a aumentar e as infrações têm diminuído.
Houve uma “explosão do autocaravanismo e Portugal sofreu uma invasão, mas não se está a conseguir adaptar”, alerta Henrique Fernandes, vice-presidente da FPA, sublinhando que, se os autocaravanistas não tiverem condições em Portugal, “vão para Espanha”. O país pode “perder muita riqueza, emprego, criação de negócios”.
É preciso, diz Henrique Fernandes, “construir massivamente estações de serviço e áreas de acolhimento bem localizadas”, pois as que existem “não são suficientes” e a “ideia de que os problemas do autocaravanismo se resolvem com parques de campismo é errada”, já que esta é uma “atividade de natureza itinerante”. As estruturas que pede não têm de ter “custos exorbitantes”, bastam coisas “básicas” para garantir a manutenção.
Portugal tem 13 mil
Haverá “entre 200 e 250 mil” autocaravanas estrangeiras a cruzar a fronteira para Portugal todos os anos, estima Paulo Moz Barbosa. Sem estatísticas nacionais, o presidente do CPA-Associação Autocaravanista de Portugal recorre a dados de uma associação espanhola segundo a qual, há dois anos, circulavam na Península Ibérica “cerca de 450 mil autocaravanas por ano”.
No verão, são jovens e famílias com veículos alugados por períodos curtos. No inverno, reformados com veículos próprios que ficam durante meses.
Paulo Barbosa indica, ainda, dados da European Caravan Federation, que mostram que no primeiro trimestre deste ano se registava a existência de quase três milhões de autocaravanas na Europa, o que realça a dimensão do fenómeno.A Alemanha lidera, com 880 mil autocaravanas, seguida da França com 640 mil. Em Espanha, são perto de 100 mil. Em Portugal, apesar de terem sido compradas 450 em 2023 e 80 no primeiro trimestre deste ano, são 13 mil - um número baixo, devido ao preço e carga fiscal elevados.
O líder da CPA diz que “uns 30%” destas autocaravanas estarão nas mãos de empresas de aluguer, que têm registado uma procura massiva. Ao JN, a Yescapa Portugal confirma ter constatado “um incremento nas reservas face ao período homólogo”. Há portugueses que querem “viajar pelo país” e muitos estrangeiros, refere a responsável pelo mercado nacional, Maria Liquito. A CamperDays, que chegou ao mercado português há um par de meses, diz que a maioria dos clientes tem entre 25 e 34 anos e viaja, em média, nove dias.
Menos coimas
Os dados da GNR parecem evidenciar uma mudança dos comportamentos que, em anos passados, motivaram críticas por haver autocaravanistas em zonas sensíveis. De acordo com a força policial, em 2023 foram registados 720 autos de contraordenação por pernoita e aparcamento de autocaravanas e, este ano (até 24 de julho), apenas estão registados 190 autos deste género.
Quanto ao caravanismo, em 2023 foram registadas 292 infrações - 101 pela Unidade de Controlo Costeiro (UCC), que atua no litoral, e as restantes, sobretudo, nos distritos de Leiria (57), Setúbal (47), Beja (43) e Faro (29). Este ano, a GNR conta 43 multas por caravanismo, quase todas (31) detetadas pela UCC nas praias.
Reformados fogem do frio no início do ano
A seguir ao verão, a altura em que há mais autocaravanas a circular em Portugal é janeiro, fevereiro e março, meses que se tornaram “fortes” para este tipo de turismo itinerante na Península Ibérica, porque “é a altura em que os reformados do Norte da Europa, que têm climas rigorosos no inverno, pegam na autocaravana e vêm viver para Portugal e Espanha”, diz Paulo Moz Barbosa, presidente da direção do CPA-Associação Autocaravanista de Portugal. A escolha deve-se ao facto de em Portugal encontrarem um “clima mais ameno” e conseguirem passar vários meses “com um custo de vida baratíssimo para os padrões deles”. A maioria das pessoas que possuem autocaravanas, reforça, são reformados, porque este “é um investimento elevado que não justifica fazer quando se é novo”, já que é após a reforma que as pessoas têm mais tempo para aproveitar o investimento, viajando nos próprios países ou para outros locais com regularidade e por períodos mais longos.
Programa do Turismo está a criar mais áreas de serviço
O Turismo de Portugal diz que tem procurado, através do Programa Autocaravanismo Responsável, “dar resposta à procura crescente” e fomentar a adoção de medidas que respeitem “as exigências ambientais, de saúde pública, de ordenamento do território e da viação”. Esta entidade aponta a plataforma digital Outdoor-Routes, gerida pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, que indica existirem 52 áreas de serviço para autocaravanas (ASA) e mais uma dúzia em obra. Há, também, ASA e estações de serviço de âmbito municipal ou privado, parques de campismo e outras estruturas que dão assistência.
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Estrangeiros
A Yescapa regista viajantes portugueses e estrangeiros à descoberta de Portugal. Destaca “franceses, espanhóis, italianos e alemães”. Desde 2023, há um “aumento de holandeses”.
Até 1500 euros
A CamperDays adianta que os clientes viajam, em média, nove dias. O valor médio de cada viagem “ronda os 1500 euros”.
Vans
Há clientes que optam por autocaravana e outros que procuram campervans, que são mais baratas.
Poucos dias
Desde a pandemia, há uma tendência para alugarem “mais vezes, mas para menos dias”. A média da Yescapa em Portugal é seis dias.
