O Caso Sócrates: sete pecados e nenhuma redenção
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Se há figura que personifica a arte de transformar a política numa tragicomédia de escândalos, essa figura é José Sócrates. O ex-primeiro-ministro, outrora visto como um modernizador, está acusado de ser o verdadeiro chefe de um esquema de corrupção, servindo aos portugueses um banquete de absurdos jurídicos, desperdício de dinheiro público e uma dose considerável de arrogância. E, como num mau filme de terror, a saga parece não ter fim. Toda esta longa história encarna os sete pecados mortais, com a segurança de quem já não tem nada a perder.
Soberba: Sócrates comporta-se como se a Operação Marquês fosse uma simples inconveniência, um detalhe menor para alguém da sua estatura. Mesmo acusado de crimes como corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, insiste em apresentar-se como vítima de uma conspiração. A justiça portuguesa já gastou milhões com o seu caso, mas ele, imperturbável, continua a desafiar tribunais, a recorrer a instâncias europeias e a arrastar o processo como se o país fosse o seu playground jurídico.
Ganância: O homem que vivia com uma modesta subvenção de ex-governante é o mesmo que movimentou milhões em offshores, recebeu luxuosos "empréstimos" de amigos empresários e, alegadamente, enriqueceu à custa do Estado. Enquanto os portugueses apertavam o cinto, Sócrates parecia seguir à risca o lema: “Quem não deve, não teme... mas quem deve, esconde bem.”
Luxúria: No corpo e no poder. Sócrates continua a deliciar-se com os holofotes, dando entrevistas cheias de retórica vazia e falsa dignidade. Adora o jogo político, mesmo quando já não tem lugar nele.
Inveja: Difícil de aplicar, porque Sócrates nunca pareceu invejar ninguém – afinal, considerava-se sempre o mais inteligente da sala. Mas talvez sinta algum ressentimento por ver outros políticos (ou até ex-aliados) escaparem aos julgamentos mediáticos que o perseguem.
Gula: De recursos públicos. O processo já consumiu anos e milhões de euros, com dezenas de arguidos e volumes intermináveis de investigação. A paciência pública está esgotada. Sócrates mastiga o tempo e cospe custos processuais como se fossem amendoins, sem que se conheçam, aparentemente, meios ou rendimentos que justifiquem o pagamento das elevadas remunerações de advogados, pareceres e processos.
Ira: Sempre pronto a atacar juízes, procuradores e jornalistas, o ex-primeiro-ministro transformou-se num especialista em discursos de indignação seletiva. Quando não está a processar alguém, lança farpas nos media, num misto de vitimização e arrogância.
Preguiça: Não no sentido clássico, mas na arte de adiar a justiça. Multiplica estratégias dilatórias, recursos sucessivos e pedidos absurdos, tudo para adiar o dia em que, finalmente, terá de responder perante a lei.
Acima de tudo, José Sócrates cometeu o erro de considerar que Portugal lhe pertencia. Alegadamente, transformou o Estado num balcão de negócios, a justiça num labirinto e a sua própria imagem numa caricatura de impunidade. Enquanto isso, os portugueses pagam a conta – literalmente.