
Decorre até 16 de julho a submissão de candidaturas ao programa "Mais Valor em Saúde - Vidas que Valem", iniciativa que acolhe, e vai premiar com quatro bolsas no valor unitário de 50 mil euros em horas de consultoria, ideias e projetos inovadores com impacto a longo prazo nos cuidados de saúde públicos.
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"É extraordinário ver que apesar das dificuldades que o Serviço Nacional de Saúde enfrenta, e é isso que passa na comunicação social, há toda uma vontade de fazer melhor e fazer diferente, no sentido de dar ao doente o que ele mais valoriza", afirma Maria de Belém Roseira ao apresentar a quarta edição das bolsas "Mais Valor em Saúde - Vidas que Valem", ao mesmo tempo que apela às equipas do SNS para submeter candidaturas às bolsas que podem constituir "um momento de reconhecimento público por todo o esforço que diariamente desenvolvem em nome dos doentes".
O regulamento, que pode ser consultado em https://maisvaloremsaude.pt/calendario-e-regulamento/, prevê candidaturas de instituições do SNS ou de equipas que aí trabalhem desde que os subscritores tenham formação profissional ou académica superior. Esta iniciativa é promovida pela biofarmacêutica Gilead Sciences em parceria com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, a EXIGO Consultores e a Vision for Value, com o apoio tecnológico da MEO Empresas, voltando a ter Maria de Belém Roseira como presidente do júri. Entusiasmada ao fundamentar os objetivos desta edição, revela que é notória a maior procura de informação e submissão de candidaturas comparativamente a outros anos. "Há cada vez mais o sentimento de que a intervenção em saúde se deve traduzir em mais valor para os doentes e há também, cada vez mais, a noção da importância da centralidade dos doentes no sistema. Confrontam-se essas pessoas com as mais diversas intervenções médicas e clínicas e nem sempre esses atos são os mais valorizados pelos doentes". A antiga Ministra da Saúde explica que as bolsas agora a concurso estão a incentivar as equipas de profissionais do SNS a reorganizarem-se para aplicarem conceitos de Value-Based Healthcare (VBHC) - saúde baseada em valor -, cultura nascida na Escola de Negócios de Harvard nos anos 90 e que orienta a prática da saúde para atividades que geram os melhores resultados para o doente, numa abordagem em que domina a economia da saúde seguindo a lógica do custo-eficiência.
Nem só a produtividade importa no SNS
Elemento novo no júri este ano, mas na génese da iniciativa desde a origem enquanto consultor na área da gestão da saúde, Manuel Delgado acrescenta que políticos e executivos estão sempre muito preocupados com a produtividade clínica. No entanto, indica antes o conceito de VBHC, assente no princípio da avaliação permanente e conjunta dos diferentes atos médicos, em contraponto ao que tradicionalmente acontece, ou seja, a avaliação isolada de cada intervenção.
"Nem só o número de consultas, de cirurgias e de internamentos interessa. Temos de saber se essa produção corresponde às necessidades dos doentes e projetar o que se faz com cada pessoa. É fundamental perceber como avalia e perceciona esses atos". Delgado sublinha duas dimensões que deveriam estar subjacentes para rentabilizar melhor o investimento em saúde. "Além de avaliar a perceção e experiência do doente nas unidades hospitalares, também é necessário saber o que sente e que benefício retirou de um episódio de internamento ou tratamento. Sente-se melhor, evoluiu do estado de padecimento em que se encontrava anteriormente, está curado"? É a avaliação dos diferentes resultados, clínicos e não só, que vai concluir se efetivamente houve benefícios, explica o consultor e antigo Secretário de Estado da Saúde. "No atual sistema corre-se o risco de se estar a fazer muitas coisas, e até bem feitas, do ponto de vista médico, mas que do ponto de vista do doente pode não acrescentar muito". Manuel Delgado, dando ênfase a um necessário trabalho em equipa, defende que avaliações rigorosas e análise de resultados podem dar a melhor informação para guiar as gestões hospitalares. Quanto ao envolvimento multidisciplinar de profissionais de saúde é algo que o júri também vai valorizar ao avaliar os projetos concorrentes.
Custo-eficiência do SNS tem de ser avaliado. "Nem só a produção de atos médicos interessa ao doente", afirma o consultor e ex Secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado.
Prémios convertidos em consultoria e formação
Tal como em outras edições serão atribuídas este ano quatro bolsas no valor unitário de 50 mil euros. O regulamento prevê que não haverá transferência de verbas para aquisição de bens ou serviços por parte das instituições que forem distinguidas. "Na prática os prémios são convertidos em horas de consultoria especializada e formação para os elementos dos projetos. Com isso saem reforçados não só os profissionais de saúde como os projetos vencedores", esclarece Jorge Félix da Exigo Consultores, parceira da iniciativa. "Na fase inicial, em articulação com o hospital onde decorre o projeto, tentamos compreender o estado de maturidade que atravessa e depois, em conjunto, avaliamos se está de acordo com as métricas de VBHC e com as próprias metas a que se propuseram alcançar. Por vezes há necessidade de fazer alguns ajustes. Numa fase seguinte, recolhem-se dados que a Exigo avalia e fornece ao hospital para que seja compreendida a eficiência dos processos em curso". Félix admite que, por vezes, estas operações exigem a análise de dados sensíveis e restritos e essa é uma das barreiras que sente no terreno, mas que gradualmente está a ser ultrapassada porque as administrações acabam por compreender o fundamento do trabalho em parceria. Depois de "mastigada", a informação é devolvida ao hospital para também a instituição perceber e ler as próprias métricas. "Posteriormente, e em articulação com o hospital, tratamos da divulgação dos resultados para a comunidade médica, seja no site do Mais Valor em Saúde, seja em congressos internacionais".
A divulgação rigorosa e transparente de resultados é um outro fundamento do VBHC. Na iniciativa "Mais Valor em Saúde-Vidas que Valem" há três palavras que importa fixar e que resumem objetivos: Capacitar, implementar e melhorar.
Capacitar os profissionais de saúde para as práticas de Value Based Healtcare, implementar essas práticas em projetos multidisciplinares e melhorar a satisfação dos utentes avaliando com rigor resultados e problemas atuais do SNS.
Após o encerramento das candidaturas, a 16 de julho, segue-se um período de avaliação das mesmas que decorre até 30 de setembro, havendo depois, a 18 de novembro, a cerimónia em que serão anunciados os projetos vencedores.


