Cantor português abriu a jornada em Sines do Festival Músicas do Mundo. Noite de lusofonia e fenómenos franco-vietnamitas.
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A primeira noite do Festival Músicas do Mundo 2024 no Castelo de Sines poderá dividir-se em dois quadros: um luso-brasileiro, pintado por Salvador Sobral e Margareth Menezes, vibrante de cores e motivos; e um franco-vietnamita, composto por Saigon Soul Revival e Mezerg, enleante, sofisticado, impressionista. Foi um mosaico de temperaturas e geografias, apenas mais um dia no escritório para o grande festival de "world music" do país.
Salvador lá chegou a “Amar pelos dois”, tema com que venceu a Eurovisão em 2017, sentado ao piano, a engendrar a enésima versão do tema. Era paragem obrigatória, podemos supor, mas a qualidade do que veio antes talvez o autorizasse a abdicar do êxito, talvez tenha pensado nas famílias em pranto se não o fizesse, canta-se e ponto final. Até lá, criou a maior orquestra de pássaros na história de um festival - “Imitem aves tropicais, qualquer passarinho.” E desfilou como poliglota - castelhano, inglês, português do Brasil - pelo seu último disco, “Timbre”, o mais “solar” da carreira, o mais rico de elementos e linguagens, acompanhado por banda multinacional. Era, de facto, estranho ainda não ter vindo a Sines.
O quadro lusófono completou-se com a atual ministra da Cultura do Brasil, que tirou férias para retomar, por 13 dias, a sua carreira musical. Margareth Menezes faz a súmula das tradições baianas, do axé ao samba-reggae, com composições suas ou releituras de Gilberto Gil, Caetano Veloso ou João Donato. É um vulcão de voz potente e expressividade máxima.“Hoje não sou ministra, sou artista!”
Na segunda tela conhecemos os pincéis de Gabriel Kaouros, cipriota grego com paixão pela música vietnamita que quis mergulhar instrumentos tradicionais como o ‘dan tranh’ e o ‘dan bau’ em ambientes lounge e psicadélicos. Deixou o ponto de fuga para Mezerg, esse extraordinário francês que fabrica um set de música de dança, entre o funk, o house e o tecno, usando as mãos e os pés. Sintetizadores modulares, pedais e outra parafernália para demonstrar que há infinitamente mais música neste gesto do que em qualquer sessão de DJ estratosférico (no cachet).