Coreógrafa Javiera Peón-Veiga apresenta espetáculo no Teatro Rivoli esta sexta e sábado.
Corpo do artigo
O espetáculo “Hammam”, da coreógrafa chilena Javiera Peón-Veiga, chega ao Teatro Rivoli, no Porto, esta sexta e sábado, com a promessa de uma experiência imersiva, em que corpo, som e espaço provocam uma jornada sensorial única. Inspirado nos banhos tradicionais turcos, o hammam, o trabalho de Javiera ultrapassa a simples recriação de um ambiente, propondo uma reflexão sobre o corpo coletivo, a intimidade e a transformação.
Desde os primeiros momentos, Javiera envolve o público numa atmosfera densa, onde os movimentos dos intérpretes – precisos e fluidos – evocam um estado ritualístico. O palco, envolto em neblina e sons aquáticos, remete para um espaço de purificação, onde o corpo serve de veículo de introspeção. A fisicalidade é hipnótica, criando imagens que oscilam entre o concreto e o abstrato, num jogo de tensão e relaxamento que parece espelhar a experiência de imersão nos banhos.
Peón-Veiga consegue um espetáculo que simultaneamente desafia e acolhe o espectador. O uso inteligente do espaço e da luz consegue criar momentos de intimidade e expansão, onde os limites entre o público e intérpretes se desvanecem.
A banda sonora – composta por sons de água, respiração e ecos eletrónicos – submerge o público nesse universo sensorial, quase tátil. “Hammam” é uma obra de camadas, onde cada movimento revela uma nova dimensão da experiência coletiva do corpo. Embora a narrativa seja fragmentada e ambígua, Peón-Veiga consegue manter uma linguagem estética poderosa, criando um espetáculo que desafia o espectador a não apenas observar, mas a sentir, a respirar junto com os corpos em cena.
O único senão é o ritmo, que em certos momentos se estende para além do necessário, tornando algumas passagens repetitivas. Mas é um risco assumido pela artista.