O sociólogo português, acusado de assédio sexual e moral por investigadoras que passaram pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, afirmou não confiar na atual direção do centro de investigação.
Corpo do artigo
Num email enviado à comunidade do CES, o diretor emérito do CES disse, esta terça-feira, que a intenção da atual direção do centro de investigação não é fazer um "julgamento imparcial", no processo em que foi acusado de assédio sexual e moral. As queixas foram primeiramente reportadas num livro académico, publicado em abril e que foi retirado de venda. Depois, várias mulheres, incluindo um coletivo de denunciantes, identificaram-se como vítimas de Boaventura de Sousa Santos. O sociólogo português sempre negou as acusações, rejeitou "atos graves", mas admitiu "comportamentos inapropriados".
"Já não confio que possa haver no CES [Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra] qualquer tipo de julgamento imparcial e não tenho quaisquer dúvidas de que o objetivo da direção do CES é (e sempre foi) expulsar-me. Não tenho dúvidas de que a direção do CES age de modo parcial, com total violação das regras do direito democrático (presunção de inocência), politicamente motivada, devido às disputas internas na instituição, e quer condenar-me publicamente, antes que os tribunais se pronunciem sobre os casos que estão a ser tramitados", escreveu no email, citado pelo jornal "Diário de Notícias".
O JN questionou a equipa de comunicação de Boaventura de Sousa Santos sobre o tema, que confirmou que o sociólogo "demitiu-se de todos os cargos do CES".
Na mesma nota, o diretor emérito do CES afirmou que o processo de averiguações aberto pela instituição, já depois de conhecidos os resultados da comissão independente constituído para averiguar os casos de assédio, terminou. "Não posso pactuar com esta conduta de uma direção da instituição que criei, a qual, descontente com o relatório da comissão independente, promove o linchamento, sem provas e sem qualquer preocupação com a verdade, de um investigador de renome internacional que, com o seu esforço e dos seus colaboradores, tornou o CES numa das mais prestigiadas instituições científicas do mundo na área das ciências sociais", acrescentou.
Nova ação em tribunal
Em outubro deste ano, a equipa de comunicação de Boaventura de Sousa Santos referiu que o sociólogo continuava "a trabalhar com pós-doutorados" do CES, depois de o próprio ter pedido a autossuspensão do cargo no centro de investigação, na sequência das acusações de assédio.
Sousa Santos intentou uma ação cível contra quatro mulheres de um coletivo de denunciantes para defesa do seu bom nome e proteção de honra. O julgamento foi suspenso. Mas agora, o sociólogo vai interpor mais uma ação em tribunal, a segunda, também contra membros do coletivo de denunciantes. Desta vez, contra "as não residentes" em Portugal.
Em abril do ano passado, Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, e Bruno Sena Martins, investigador na mesma instituição, foram acusados de assédio sexual e moral num capítulo do livro chamado "Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade", publicado na editora académica Routledge.
A obra deixou de estar definitivamente à venda na editora Routledge. A empresa Taylor & Francis, detentora da editora, apresentou em setembro do ano passado aos editores uma proposta para disponibilizar o livro sem o capítulo 12, onde constavam as denúncias de casos de assédio no CES. Porém, não foi possível chegar a acordo.