O futebol que temos e que merecemos
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A temporada de 2025/2026 da I Liga de Futebol Profissional masculino vai jogar-se em sete distritos. A distribuição dos mesmos no território português mostra uma contiguidade de quatro deles, o que alimenta a ideia de dois centros competitivos – um em Lisboa e o outro no eixo Porto-Braga. O resto do país terá os jogos da Liga II, assim como dos campeonatos de acesso ao universo profissional como os jogos menos distantes.
Esta concentração é resultado da acumulação de recursos dos espaços e das coletividades, de experiência organizativa, assim como de prestígio (seja pela acumulação de títulos, seja pela consolidação do desempenho desportivo das equipas nas épocas passadas).
Quando olhamos para os campeonatos de décadas como as de 1960 ou 1970, encontrávamos aí “representantes” de uma diversidade de distritos que agora parecem arredados do acolhimento dos jogos profissionais. Desde Viana do Castelo, Évora, Castelo Branco ou Setúbal, parecia então que o futebol era menos desequilibrado na sua dispersão geográfica. Ou então que a calçada de uma qualquer rua das nossas cidades menos densas estava mais próxima de promover os campeões que jogavam descalços ou de sandálias para os relvados mais ambicionados.
Em muitos casos, o desporto é o melhor indicador do mais profundo de cada um de nós. Dá-nos uma desculpa para nos exteriorizarmos, para fazermos as pazes ou para declarar o ódio que andava escondido. Também em termos económicos o desporto permite a exibição de competências ou a assunção das fragilidades que são difíceis de medir por outras métricas.
Com orçamentos bilionários, o mundo do futebol profissional torna-se cada vez mais coutada das cidades/regiões com excedentes para tais luxos. Ainda assim, a revolução das infraestruturas e das redes viárias das últimas décadas, aliada a uma cultura de ida aos estádios muito diferente daquela dos nossos avós, facilitou a presença assídua de muitos adeptos nos jogos das equipas profissionais, mesmo que isso implique a deslocação de centenas de quilómetros em vários momentos ao longo do mês.
Não quer isso dizer que se goste menos do desporto assegurado pelas associações locais. Mostra, sobretudo, que os polos estão mais complexos, mais hierarquizados e que o nosso conceito de distância e de local mudou também. E com ele, os nossos investimentos no desporto.