O Ministério da Cultura de Espanha suspendeu o Prémio Nacional de Tauromaquia. O gabinete de Ernest Urtasun iniciou processo para a anulação definitiva do galardão, entregue desde 2013.
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O Prémio Nacional de Tauromaquia foi criado em 2011, par se juntar aos das Belas Artes, Teatro, Música e outras disciplinas artísticas, com uma dotação monetária de 30 mil euros, mais 10 mil que um galardão na área da literatura, por exemplo. Começou ser entregue em 2013, mas já não vai ter vencedor este ano. O Ministério da Cultura, liderado por Ernest Urtasun, do Sumar, iniciou os trâmites para a eliminação deste galardão da lista de prémios culturais.
"Entendemos que estes prémios nacionais estão destinados a dar visibilidade aos sectores culturais que têm grande apoio social e consideramos que a preocupação com o bem-estar animal aumentou na sociedade", explica uma fonte do ministério da Cultura, citada pelo jornal "El País". Segundo dados revelados àquele periódico espanhol, apenas 1,9% dos espanhóis assistiu a algum espetáculo ou festa taurina entre 2021 e 2022, uma queda de 5,9 pontos percentuais em comparação com os dados de 2019, revela a Estatística e Assuntos Taurinos.
O presidente da Fundação Touro de Lide, Victorino Martín, acusou o ministro da Cultura de discriminar a tauromaquia "por motivo ideológicos", considerando que Urtasun "não está a cumprir as obrigações" para as quais foi eleito. "Se não gosta de touros, respeitamos, mas não é ministro para fazer o que gosta, mas para governar para todos os espanhóis", acrescentou aquele ganadeiro, citado pela Agência EFE.
Martín adiantou que fundação entregará um prémio em 2024. E não está sozinha. O presidente da comunidade autónoma de Castela-Mancha, Emiliano García-Page (PSOE), anunciou no X que iniciará contactos com o mundo taurino para criar galardões regionais. "Estes prémios teriam a ambição de ser coordenados e partilhados com outras autonomias, pelo que pretendemos que tenham alcance nacional e internacional", escreveu.
A Junta da Estremadura também não gostou da faena de Urtasun e admite criar um prémio próprio. Vicente Barrera, político dos conservadores de extrema-direita Vox e com passado no toureio, acusou o Governo de "ataque à liberdade de expressão", argumentando que "o papel do Estado deveria ser o da promoção e proteção da diversidade cultural que carateriza" Espanha.
A suspensão do prémio só pode ser surpresa para quem não conhece Urtasan. "A minha posição sobre este tema é conhecida. A tauromaquia é uma grande tradição espanhola, mas, como tudo na vida, as tradições evoluem. Já o disse muitas vezes, e creio que a grande maioria da sociedade não está de acordo com os maus-tratos animais", disse o ministro da Cultura, numa entrevista o "El pais", em março. O programa eleitoral do Sumar plasma esta opinião de forma inequívoco na rubrica "Proteção e Bem-Estar Animal", anunciando a intenção de "derrogar a a Lei 18/2013 de proteção cultural e patrimonial da tauromaquia", que deu força de lei ao prémio agora suspenso.
Na mesma proposta, o Sumar anunciava a intenção de limitar a participação de menores "em espetáculos de crueldade animal" e a suspensão do financiamento público aos espetáculos taurinos com morte de animais."
O anterior ministro da Cultura, Miquel Iceta, do PSOE, tentou excluir as corrida de touros do Abono Cultural Jovem, que dá 400 euros a todos os cidadãos que completem 18 anos para gastar em cultura. Acabaria por ser o Supremo Tribunal a anular a exclusão, permitindo aos jovens usar o dinheiro para espetáculos com touros. Segundo as estatísticas citadas pelo "El País", apenas 0,17% do abono foi gasto em atividades taurinas.