“Ah Amália – Living experience”: exposição imersiva sobre a vida e a obra da histórica fadista abre hoje ao público na Alfândega do Porto.
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O início da vida de Amália, segundo a própria fadista, remonta ao incerto. “Não sei o dia em que nasci. A minha avó dizia que eu tinha nascido no tempo das cerejas, que vai de maio a julho”. Esse dia é bem conhecido: trata-se de 23 de julho, ano 1920. As cerejas, no entanto, tornaram-se um ícone da fadista, e são evocadas como tal em distintas fases da singular exposição “Ah Amália: Living experience”.
A experiência combina realidade virtual, video mapping e até uma atuação holográfica à escala real, numa exposição desenvolvida pela SP Entertainment e Fundação Amália Rodrigues, em parceria com o atelier OCUBO.
Primeira mostra imersiva dedicada a uma personalidade portuguesa, “Ah Amália: Living experience” faz hoje a sua estreia no Porto, ao mesmo tempo que continua em Lisboa, no espaço 8 Marvila, antigo Armazém Abel Pereira da Fonseca. O lugar que a acolhe no Norte do país é a Immersivus Gallery, na Alfândega, que tem neste momento outras três instalações: “Porto Legends”, “Impressive Monet & Brilliant Klimt” e “Misterioso Egito”.
Foi esta mulher nascida no tempo das cerejas quem projetou o fado para o Mundo, aquela que era a canção popular de Lisboa, que ecoava pelos bairros e brotava da marginalidade. Foi deixando de ser assim, fruto do trabalho de Amália de expansão do género, que culminou com o estatuto de Património Cultural Imaterial concedido ao fado pela UNESCO em 2011.
Seja protagonista
A exposição no Porto contém duas novas instalações interativas projetadas pelo atelier criativo OCUBO. A primeira, “Luzes da ribalta”, acontece no piso inferior da Alfândega do Porto, onde o circuito se propõe começar. Neste espaço, os visitantes podem verdadeiramente mergulhar no seu universo: são convidados a ser protagonistas de uma noite de fados e a fazê-lo de forma expressiva – a retribuição passa por aplausos, uma fotografia e, claro, luzes.
Na segunda criação, o público vai descobrindo notas que fugiram de uma partitura, entre guitarras, microfones, cerejas, sapatos e papagaios que erram pelo chão, e que ecoam de uma guitarra portuguesa – não fosse o nome da secção “Um fado em cada passo”.
A (estranha) forma de vida de Amália não está em risco de cair no esquecimento, mas ainda assim é adaptada aos tempos modernos. Nas “furnas” da Alfândega encontramos uma área escura onde a vida da fadista é retratada num vídeo que corre em loop, com os grandes sucessos a soar ao fundo. Quem não esteve no Olympia de Paris, em 1987, pode (quase) viajar no tempo e desfrutar da recriação do concerto em formato de holograma.
Amália, que morreu a 6 de outubro de 1999, foi distinguida em 1986 com a Medalha de Mérito de Ouro pela cidade que soube escutar o fado: o Porto.