O Partido Socialista só estará livre de compromissos a partir de 2026. Por agora, será sempre acusado de que este Orçamento também é dele. Quando tudo o que havia para dizer já estava antecipado e pré-anunciado, a atitude de viabilização de Pedro Nuno Santos não é ciência nem futurologia, antes um difícil exercício de articulação de percepções ao longo dos meses que passaram e dos meses que aí vêm. Rejeições só para o Orçamento de Estado (OE) 26. O líder do PS escolheu o caminho mais longo, dançando ao som de dúvidas fictícias durante meses para transmitir a única posição possível face ao contexto político do país. Aqui chegados, Pedro Nuno Santos negou ironicamente a impulsividade que lhe imputam e deu uma prova de vida. Mesmo dentro do próprio partido, a viabilização do OE 25 é a maior garantia de validade do seu percurso político até às autárquicas, momento onde poderá ganhar balanço para novas decisões orçamentais.
Os argumentos aduzidos são evidentes: houve eleições há pouco tempo e novas eleições não garantiriam estabilidade. Estas são duas evidências que não nascem hoje e que não nasceram ontem. São pura matemática e calendário. A única razão para prolongar a dúvida plástica sobre a aprovação do OE 25 fundou-se na necessidade de toda a oposição simular uma negociação com ganhos próprios e perdas governamentais a título de ajustes cirúrgicos e pouco mais. Este jogo partidário, flatulento e desnecessário, não poupou ninguém e acrescentou mais um nível de demagogia, neste caso passivo-agressiva, à política portuguesa. Todos entendem a necessidade táctica de alimentar dúvidas, mas ninguém suporta a manutenção de dúvidas sem a existência de suspense.
Eleições legislativas antecipadas não estão na agenda do PS e seriam um perigo para Pedro Nuno Santos, mesmo que empurrado por algum “friendly fire” interno. Sempre foi evidente que André Ventura nunca deixaria de viabilizar este Orçamento, sob pena de perder boa parte do seu apoio financeiro e metade do seu grupo parlamentar. Deixar a aprovação nas mãos da extrema-direita comportava perigos de normalização que a Esquerda não pode correr, mesmo que tivesse esperança na vampirização do eleitorado de Luís Montenegro pela demagogia populista de uma direita que corre por fora ou em qualquer pista.
A carta estava escrita e, finalmente, chegou ontem aos portugueses como um fim de uma novela sem interesse, sem ponta de espanto e com um acrescento de desilusão pelo tempo perdido a simular possibilidades inexistentes.
O autor escreve segundo a antiga ortografia

