Voluntariado, um desafio para a próxima legislatura
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Vivemos numa sociedade que faz apelos constantes a estilos de vida individualistas. Porém, em situações de calamidade, é normal jorrarem muitas ações solidárias, sobretudo na doação de bens. Já é mais difícil a assunção de compromissos na doação do tempo em favor do bem comum. Desconhece-se o número real de voluntários existentes em Portugal. Calcula-se que sejam perto dos dois milhões, incluindo os que já o fazem de uma forma mais irregular. A Confederação Portuguesa do Voluntariado-CPV, que integra 48 organizações, representa cerca de 700 mil voluntários. Nesta forma de exercer a cidadania, somos um dos países da cauda da Europa.
Uma proposta de Revisão da Lei do Voluntariado estava pronta a ser apresentada ao Parlamento. A lei existente tem já 27 anos. Entretanto, muitas transformações aconteceram na sociedade portuguesa e a CPV, com outras organizações interessadas no setor, apresenta essa proposta: que visa a alteração da idade para se ter o estatuto de voluntário, permitindo que gente mais jovem possa ter esse estatuto; que sejam dadas condições facilitadoras desta prática da cidadania que valorizem a democracia, na medida em que reforçam a sua dimensão participativa; que reconheçam a missão destas pessoas no desenvolvimento do país. Esperamos que os novos parlamentares venham a corresponder às nossas pretensões.
Queremos também que o voluntariado seja um dinamizador do diálogo entre gerações. A experiência dos que já têm mais idade, com a ousadia e criatividade dos jovens, pode gerar programas de cidadania que envolvam a CPV e o Instituto Português do Desporto e Juventude. Estes programas podem assegurar o crescimento da maturidade dos mais novos e a longevidade, com maior qualidade, dos seniores.
Esperamos que o próximo Governo apresente um programa com as medidas relevantes e urgentes para o desenvolvimento integrado e sustentável de Portugal. Para isso, deve considerar o valor que o voluntariado já tem e o muito que pode ainda acrescentar ao nosso país, para atingir este desiderato.
O voluntariado tem um valor social considerável, mesmo no que respeita ao económico. As economias mais avançadas e atentas já o contabilizam com seriedade porque, sem o mesmo, seriam muito mais pobres e com muitos mais problemas. Alicerça-se em valores com um enorme potencial para lidar com alguns dos maiores desafios que enfrentamos neste momento tão sensível da história.