Sócio do F. C. Porto sentiu "clima claro e inequívoco de intimidação" no Dragão Arena
Um sócio do F. C. Porto que esteve presente na Assembleia Geral Extraordinária relatou um clima de intimidação e ameaça no interior do Dragão Arena. Porém, não conseguiu identificar nenhuma das pessoas responsáveis por esse clima de tensão.
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Peter, que pediu para testemunhar sem os arguidos na sala, entrou no pavilhão quando decorriam os distúrbios na bancada norte. Viu pessoas a saltar para o recinto e a fugir.
O amigo pegou no telemóvel e começou a filmar. “Uma rapariga, não sei quem é, nem se é da claque, tirou-lhe o telemóvel, ficou com ele alguns segundos e disse-lhe que entre marido e mulher não se mete a colher". "Também filmas quando discutes com a tua mulher?", questionou-o. Depois, a testemunha tirou o telemóvel da mão da rapariga, que estava acompanhada de um homem.
“Havia uma intimidação para não se usar o telemóvel. Sempre que alguém puxava do telemóvel havia intimidação, berros”, descreveu a testemunha, confessando, porém, que não ouviu nenhuma ameaça direta, mas que “havia comportamentos intimidatórios”. Contou ainda que viu Sandra Madureira a insurgir-se contra “um miúdo” por este ter publicado coisas nas redes sociais. “Ouvia-se: ‘não tiras o telemóvel, não tiras o telemóvel’, dirigido a várias pessoas”, relatou.
“Via-se pessoas a movimentarem-se rápido de um lado para o outro e entendíamos que havia uma espécie de organização para intimidar e evitar que pessoas filmassem. Era a minha perceção. Havia pessoas a controlar, não tenho dúvidas”, testemunhou. Peter disse ainda que, quando foi fumar no exterior do pavilhão, viu uma pessoa a entregar pulseiras em frente ao segurança, não conseguindo identificar nenhuma delas.
A testemunha criticou ainda o facto de os elementos da direção do clube terem ficado sentados passivamente após os desacatos, quando já vários adeptos pediam que a polícia fosse chamada. “Quando se retira a liberdade de expressão, isso para mim é um crime”, considerou, exemplificando com a retirada do telemóvel.
O amigo foi-se embora e Peter foi-se sentar com uma amiga na Bancada Norte. Após falar ao microfone, Henrique Ramos, o sócio que foi agredido, sentou-se ao seu lado. “Vejo dez ou 20 pessoas que estavam junto da claque dos Super Dragões a correr na minha direção. Senti-me ameaçado e tivemos que fugir para dentro do recinto”, recordou. De seguida, foram-se embora do pavilhão.
Um dia depois, a testemunha, que confirmou ser primo do atual vice-presidente do F. C. Porto, João Borges, inscreveu-se no grupo de WhatsApp G1, com pessoas que estiveram na AGE, sendo que esse grupo depois transformou-se “numa plataforma de mudança”. “Na realidade era mais contra o sistema atual”, explicou, lembrando que, quando foi à AGE foi pela mudança. “Havia um clima claro e inequívoco de intimidação. O que aconteceu foi tão mau, tão triste, que houve muitas mais pessoas que ficaram com a certeza da necessidade de mudança, apoiando a pessoa que estivesse mais bem colocada para isso”, explicou.
“Naquela altura não sabia que o meu primo ia ser candidato nas listas de Villas-Boas. Sabia que se André Villas-Boas fosse candidato o ia ajudar sempre na campanha porque são pessoas de confiança”, afirmou, garantindo que João Borges nunca lhe pediu nada, nem o instrumentalizou no seu testemunho.