Comissão Europeia entrega verbas à Tunísia para travar chegadas, enquanto o Papa Francisco se desloca a França para apelar ao acolhimento de migrantes.
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Bruxelas desbloqueou, esta sexta-feira, um pacote de assistência, no valor de 127 milhões de euros, que vai começar a ser entregue à Tunísia “nos próximos dias”, informou a porta-voz da Comissão Europeia, Ana Pisonero. As verbas são parte do memorando de entendimento sobre uma parceria estratégica entre a União Europeia e o país do Norte de África, no qual o principal objetivo é travar a imigração irregular na perigosa rota do mar Mediterrâneo.
A parceria com o Estado africano – que é um dos principais pontos de partida de migrantes para a Europa –, explicou a instituição europeia em comunicado, prevê “reprimir as redes de contrabando” que se aproveitam da fragilidade humana para ganhar dinheiro com travessias ilegais, bem como reintegrar os requerentes de asilo que não possuam documentação “nos países de origem, no pleno respeito do Direito internacional”.
O acordo entre as duas partes, que prevê mais 900 milhões de euros em ajuda a longo prazo, foi firmado em julho, quando Ursula Von der Leyen visitou a Tunísia na companhia da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, tendo sido colocado em prática menos de uma semana após as duas líderes terem estado em Lampedusa, em Itália, onde o número de refugiados disparou na semana passada.
Durante a deslocação à ilha, a presidente da Comissão Europeia comprometeu-se a ajudar Roma a dar resposta ao drama migratório, anunciando um programa de dez pontos no qual já constava o financiamento à Tunísia.
Esta é mais uma prova de que a Europa está empenhada em agilizar o plano de combate à imigração irregular, até porque, esta semana, Meloni já deixou claro que não iria permitir que a nação que lidera se torne “no campo de refugiados” do velho continente.
Os sucessivos apelos da chefe do Executivo italiano para que todos os estados-membros se mobilizem em torno do problema têm sensibilizado alguns vizinhos. O ministro do Interior de Paris, Gérald Darmani, que na segunda-feira esteve em Roma para discutir o tema com o homólogo italiano, Matteo Piantedosi, assegurou que o Governo francês está disposto a ajudar Itália a expulsar migrantes que não sejam refugiados.
Por outro lado, a Alemanha anunciou, esta sexta-feira, que vai financiar organizações não-governamentais que apoiem migrantes e refugiados que cheguem a Itália por mar, por considerar que ajudar estas pessoas se trata de um “dever moral”. A iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros vai beneficiar, para já, duas instituições, que irão receber entre 400 e 800 mil euros. A notícia foi, no entanto, mal vista no Palácio Chigi, com o Executivo italiano de Direita a dizer que recebeu a informação com “grande estupefação”.
“É um dever da humanidade”
Em contraste com a estratégia anti-imigração que está a ser arquitetada por diversos atores internacionais, o Papa Francisco, que ontem chegou a Marselha, em França, para uma visita com foco na tragédia humanitária, pediu compaixão pelos “mais fracos”.
“As pessoas que, ao serem abandonadas sobre as ondas, correm o risco de se afogar, devem ser socorridas. É um dever da humanidade, é um dever de civilização”, referiu o pontífice, junto a um memorial dedicado aos desaparecidos no mar.
O líder católico, que se vai encontrar com o presidente Emmanuel Macron, lembrou que as pessoas “não são números”, apelando para que se “supere a paralisia do medo e do desinteresse, que condena à morte com luvas de seda”.
O chefe do Vaticano lamentou, recentemente, que o Mediterrâneo se tenha tornado “o maior cemitério do Mundo”.