"Marcelo quis ouvir-me porque sou muito bom". Foi assim que, em 2020 - então com 24 anos -, Sebastião Bugalho justificou o facto de ter recebido um convite de Belém para um almoço. Filho de jornalistas, foi candidato ao Parlamento pelo CDS e é comentador televisivo. A AD escolheu-o como cabeça de lista nas europeias.
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Ainda não completou 29 anos, mas já vai à televisão há quase uma década. É "um jovem que o país conhece", conforme o descreveu o primeiro-ministro, Luís Montenegro, esta segunda-feira, ao confirmar o nome do cabeça de lista. Bugalho é o candidato-surpresa da coligação, que também terá querido contar com o presidente da Câmara do Porto para número dois. Rui Moreira recusou.
Filho dos jornalistas João Bugalho e Patrícia Reis, Sebastião teve uma curta passagem como jornalista pelo jornal i, no qual assinou peças sobre a atualidade política nacional - em particular sobre PSD e CDS. Num artigo de 2021 da "Sábado", relata-se a forma como terá entrado no meio: "Ofereceu-se para escrever opinião no jornal i. Gostaram do seu atrevimento e convidaram-no a assinar uma coluna".
Nas legislativas de 2019, Bugalho foi o candidato número seis do CDS por Lisboa, como indepentente, mas não conseguiu ser eleito. Em 2021, convidado para substituir uma deputada, recusou. Foi mantendo colunas de opinião em vários jornais e tornou-se comentador habitual na televisão - primeiro na TVI/CNN e, mais recentemente, na SIC. Em janeiro, entrevistou António Costa, então ainda primeiro-ministro, para o "Expresso".
Em outubro, dizia que Portas era o único candidato viável às europeias
Na altura dos debates para as legislativas de março, o agora cabeça de lista da AD foi um dos comentadores que atribuíram notas ao desempenho dos líderes partidários. No embate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, deu 6 valores em 10 ao social-democrata e 7 em 10 ao socialista, considerando que este último teve uma prestação "belíssima".
Alguns anos antes, em 2020, durante uma entrevista concedida ao i, Bugalho também se tinha avaliado a si próprio. Na altura, quando questionado sobre o motivo pelo qual teria sido uma das personalidades convidadas pelo presidente da República para um almoço, não hesitou: "Marcelo quis ouvir-me porque sou muito bom".
Mais recentemente, em outubro, colocou inadvertidamente uma mina no seu próprio caminho, ao defender, na SIC, que Paulo Portas era o candidato ideal às europeias, por ser o único "capaz de disputar" o espaço da "Direita democrática". "Tudo o resto parece-me ser uma escolha entre a derrota flagrante e a derrota honrada", acrescentou então, numa altura em que, previsivelmente, ainda não teria tomado conhecimento da possibilidade de ele próprio ser o escolhido.
Apesar da juventude, Sebastião Bugalho tem já um extenso currículo nas televisões, tendo dividido o ecrã com figuras como José Miguel Júdice, Constança Cunha e Sá ou Sérgio Sousa Pinto. Em 2019, fez um 'tweet' onde, com humor, relatou a sua estreia nessas lides: "A primeira vez que fui à televisão tinha 19 anos e levei uma coça do Jerónimo de Sousa em direto. Simpaticamente, veio dar-me o programa do PCP a seguir e disse: da próxima vez, leia", partilhou.
Voz "disruptiva" para tirar votos a Chega e IL
Bugalho é católico e licenciado em Ciência Política. Dono de um discurso articulado e incisivo - o líder do CDS, Nuno Melo, diz que será "temível" nos debates -, nunca escondeu estar alinhado à Direita. É mais próximo da vertente liberal e atlantista e, consequentemente, menos entusiasta tanto das fações mais conservadoras como do populismo do Chega. Os apoiantes elogiam-lhe a maturidade e a clareza de ideias, os detratores acusam-no de ter um discurso demasiado cinzento para a idade.
Em 2021, foi alvo de um inquérito por suspeitas de violência doméstica sobre uma antiga namorada. No entanto, o processo seria arquivado, no ano seguinte, por falta de provas. O seu nome surgiu, também, em escutas do processo "Tutti Frutti".
A escolha da AD apanhou o país de surpresa. Ao justificar a decisão, Montenegro descreveu Bugalho como alguém que "aqui e ali até [é] polémico, que afronta a posição, que é disruptivo, que estimula a confrontação democrática, com respeito democrático".
Numas eleições em que não existe a tentação do voto útil, a AD tenta jogar em três frentes, segurando o seu eleitorado e procurando esvaziar tanto o Chega como a IL. Para o conseguir, aposta na irreverência de Bugalho, um jovem não militante e - como Marcelo, Ventura ou até Costa - popularizado pelo pequeno ecrã.