Empresa tinha acordo para comprar 90% da SAD. Terá injetado verbas e acusa líder de ter usado dinheiro e rompido contrato.
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O fundo internacional MYFC Ventures, que tem entre os 18 investidores o internacional português Diogo Jota e a antiga estrela francesa Patrice Evra, reclama 22 milhões de euros à SAD do Estrela da Amadora, ao presidente Paulo Lopo, ao seu filho e vice-presidente, Francisco, e a uma empresa sediada em Matosinhos. Argumenta que os dirigentes rasgaram unilateralmente um acordo de venda de 90% da SAD, apesar de terem recebido milhões de euros, quando o clube lutava para subir à Primeira Liga, em 2023. Lopo nega e garante ser ele a reclamar 9,6 milhões ao fundo.
Segundo o processo, que está no Tribunal Cível de Cascais, o MYFC e a SAD assinaram um primeiro acordo de compra e venda de 45% das ações por 2,5 milhões, em 2022. Em fevereiro do ano seguinte, as partes fizeram um aditamento para prorrogar o prazo de pagamento e, em maio, alteraram o objeto do negócio para a venda de 90% do capital social da SAD, com o valor a subir para 4,2 milhões de euros. Mas o fundo diz que, durante aquele período, foi transferindo avultadas quantias para o clube, para colmatar as dificuldades da SAD.
“Entre a data da celebração do contrato de compra e venda, 12 de setembro de 2022 e meados de 2023, ou seja em menos de um ano, a autora [MYFC] procedeu à transferência a título de antecipação de preço e de investimento direto no clube, um valor total de 5,219 milhões, ou seja, um valor já muito superior ao acordado para compra e venda de 90% das ações do clube”, argumentam os advogados do fundo, sediado em Inglaterra.
Subida de divisão valorizou SAD
No documento que iniciou o processo judicial no ano passado, o fundo, sediado no Reino Unido, transcreve transferências que serviram para pagar dívidas do clube, obras no estádio, manutenção do relvado ou salários de jogadores. Garante ter trabalhado “na angariação de parcerias estratégicas e na captação de patrocínios (...) de forma a aumentar as receitas do clube e a fortalecer a posição deste no panorama do futebol português”.
Alega ainda que, em agosto de 2023, o presidente Paulo Lopo disse ao representante da MYFC em Portugal, Hugo Cortez, que iria vender o clube a um argentino, por um valor superior ao acordado com os investidores do fundo. Segundo a ação, enquanto o contrato com a MYFC ainda vigorava, foi criada uma empresa para promover um fundo de investimento alternativo, chamado “KickOff Capital”, cujo objetivo seria assumir o controlo do clube.
Segundo documentos internos dessa empresa juntos ao processo, Lopo pretendia vender a SAD por 25 milhões de euros após a subida à Primeira Liga. Nesse quadro, os administradores da SAD terão optado por resolver unilateralmente o contrato com o MYFC, invocando incumprimento do pagamento.
O fundo acusa a SAD, presidente e vice de abuso de direito e enriquecimento sem causa.
Lopo interpôs ação milionária contra fundo
Ontem contactado pelo JN, Paulo Lopo começou por afirmar que mantém uma relação de amizade com Patrice Evra e garantiu que “a MYFC não pagou o contrato de promessa que tinha para a compra do Estrela”. Acusa a empresa gestora do fundo de não ter legitimidade para reclamar dinheiro. “Não tem legitimidade e não cumpriu”, explicou Paulo Lopo, que adiantou ainda ter interposto uma ação contra a MYFC. “Fizemos uma reconversão da ação no valor de 9,6 milhões de euros”.