Pedro Nuno Santos assume derrota do PS e garante resistência à Direita: "Seremos a oposição"
O secretário-geral do PS admitiu a derrota, mesmo sem resultados eleitorais definitivos, e posicionou o partido como líder da oposição: "O caminho começa agora, hoje!". A AD não conta com os socialistas para governar.
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Já muitos socialistas começavam a sonhar com uma vitória épica – e que, ao início da noite, parecia impossível –, quando Pedro Nuno Santos desceu à sala onde estavam os jornalistas para admitir a derrota: apesar da “diferença tangencial” face à Aliança Democrática (AD), “de cerca de 50 a 60 mil votos”, o partido tinha ficado atrás da coligação de Direita. “O PS será oposição”, anunciou Pedro Nuno, garantindo que não deixará para o Chega o papel de maior opositor do Governo. Embora confirmando que não votará a favor de uma moção de rejeição ao Executivo de Luís Montenegro, advertiu que dificilmente essa abertura significará a aprovação de um Orçamento do Estado da coligação: “A AD que não conte com o PS para governar”, asseverou.
"Seremos a oposição. Renovaremos o partido e procuraremos resgatar os portugueses descontentes com o PS. Esta é a nossa tarefa daqui para a frente", asseverou o secretário-geral do PS, visivelmente emocionado durante todo o discurso, pontuado por vários clamores ao líder socialista. Foi uma "campanha extraordinária, cheia de força", apontou Pedro Nuno, que, no início da declaração, começou por saudar a participação eleitoral que fez recuar a abstenção, agradecendo depois ao partido e aos militantes, cuja união assegura. "Temos um partido forte e unido, pronto para os combates", declarou.
Questionado sobre se não estaria a reconhecer a derrota cedo demais – tendo em conta a proximidade de resultados face à AD –, o líder do PS explicou que é “muito improvável” que os resultados da emigração – há quatro deputados a apurar, sendo que costumam ser divididos entre PS e PSD – pudessem “compensar” a desvantagem que o seu partido tem de momento. Disse ter admitido já a derrota para que o país não fique ”em suspenso durante mais 15 dias”.
O secretário-geral socialista também abordou o resultado do Chega, considerando-o “muito expressivo” e, nesse sentido, "impossível de ignorar". "Não há 18% de portugueses votantes racistas e xenófobos, mas há muitos portugueses zangados", disse, referindo-se à percentagem de votantes do partido, e definindo como objetivo do Partido Socialista daqui para a frente recuperar a confiança dessas pessoas. "Queremos recuperar a confiança dos portugueses e mostrar-lhes que a solução para os problemas concretos passam pelo PS e não pelo Chega e pela AD", afirmou, prometendo trabalhar "nos próximos meses" para que o PS volte a dar resposta aos eleitores "descontentes".
"O nosso caminho começa agora, hoje", exclamou, sob palmas e gritos dos camaradas, citando Mário Soares - "Só é vencido quem desiste de lutar" - e pedindo empenho no trabalho para que o PS volte a "ter uma maioria para governar Portugal".
Exclui maioria de Esquerda
Pedro Nuno Santos excluiu a formação de uma maioria de Esquerda que suporte uma governação liderada pelo PS, à semelhança do que aconteceu na chamada "geringonça" que António Costa encabeçou em 2015. “Qualquer solução dessas teria um chumbo de toda a Direita”, assegurou o líder socialista. “Está fora. Não nos compliquemos. Deixemos a tática de fora. Nós não temos uma maioria. E, se não temos uma maioria, não a podemos podemos apresentar", asseverou Pedro Nuno Santos, posicionando o Partido Socialista como "líder da oposição".
Ninguém contesta continuação do líder
Às 20 horas, quando foram conhecidas as primeiras projeções, o ambiente no Hotel Altis não podia ser mais diferente daquele que se tinha vivido há dois anos: em 2022, os apoiantes irromperam em festejos quando se soube que o desfecho provável era a maioria absoluta; hoje, as caras que olhavam para as televisões estavam resignadas. Só depois de largos segundos em silêncio é que alguém, talvez apercebendo-se que as câmaras estavam a filmar, começou a gritar: ”PS! PS!”. A sala, que então ainda estava a meio gás, seguiu o exemplo, como quem quer provar que está com o partido nos bons e nos maus momentos.
A dúvida sobre a vitória da AD foi-se instalando e aumentou quando, já depois das 22 horas, António Costa – que tinha dito que só iria ao Altis em caso de derrota –, apareceu na sede de campanha para afirmar que talvez ainda houvesse esperança. Frisou que, nesse momento, havia “praticamente um empate” entre PS e AD em termos de mandatos, bem como “uma proximidade muito grande” no que toca a número de votos. Nada parecia estar perdido.
Numa altura em que os blocos da Direita (sem Chega) e da Esquerda contabilizavam cerca de 80 mandatos cada, Costa frisou que a “única certeza” era que, “provavelmente”, não seria naquele dia que haveria resultados finais. Acrescentou que, no limite, seria preciso aguardar pelos “próximos dias ou semanas”, até que fossem apurados os resultados da emigração. Pedro Nuno, no entanto, preferiu assumir a derrota e acabar já com o impasse.
Várias figuras de vulto do PS – algumas das quais não apoiaram Pedro Nuno nas eleições internas – vieram deixar claro que não irão contestar a continuidade do líder, eleito em dezembro. O ministro das Finanças, Fernando Medina – que tinha apoiado José Luís Carneiro contra Pedro Nuno e que é visto como possível candidato ao cargo no futuro –, veio retirar pressão ao secretário-geral: referiu que esta não é uma derrota de Pedro Nuno mas sim “do PS”, frisando que o partido assume o resultado “em conjunto” e elogiando o líder pela “boa campanha” que fez.
Ana Catarina Mendes, que não tinha declarado apoio a qualquer candidato nas eleições internas, fez questão de ir dar “um abraço” a Pedro Nuno Santos. “O secretário-geral fez uma campanha inexcedível e extraordinária”, afirmou a ministra dos Assuntos Parlamentares.