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Durante anos, muitos médicos acharam que bastava exercer bem a profissão para tudo correr bem. Que bastava estudar, diagnosticar, prescrever, operar, escutar os doentes, resistir à exaustão e que, no fim, alguém cuidaria da dignidade da medicina. Estavam enganados. A realidade mostrou-nos outra coisa: quando os médicos se afastam da vida institucional da medicina, outros tendem a querer ocupar o lugar, muitas vezes, sem compreenderem o que é ser médico e o ato médico e com enorme prejuízo para a qualidade dos cuidados de saúde.
O novo Estatuto da Ordem dos Médicos, imposto sem debate, é exemplo disso. Fragilizou funções centrais da nossa profissão, como a formação médica e a autorregulação. Não podemos aceitar que se comprometam estes pilares inegociáveis. Esta alteração tem de ser corrigida urgentemente, antes que o dano se torne irreversível.
Ao mesmo tempo, o próprio ato médico está em risco de ser desvirtuado. Ninguém além de um médico tem a preparação técnica e a responsabilidade ética para realizar atos médicos. Essa fronteira é clara e deve ser respeitada e defendida sem concessões. Qualquer tentativa de a esbater é um atentado à segurança dos doentes e à própria essência da nossa profissão.
Sabemos também que sem uma formação exigente, ética e científica ao longo de toda a carreira, não há medicina de qualidade. Exigimos uma nova carreira médica moderna, justa e motivadora – que valorize o mérito, promova a atualização constante e dê condições para fixar os médicos em Portugal.
Chegámos a um limite. A profissão está desgastada como nunca. Os médicos andam exaustos, desvalorizados, e muitos já só pensam em emigrar para onde sejam respeitados. É a nossa missão impedir que o sistema de saúde colapse por falta de médicos e de condições dignas para exercer.
Por tudo isto, estas eleições que decorrem de dia 29/05 a 03/06 não são um mero formalismo, nem um cheque em branco. São um mandato claro para exigir as reformas inadiáveis e devolver a dignidade à profissão médica. Votar é um gesto de afirmação e de união. Cada voto conta e ficar em silêncio agora seria o maior erro.
Confio nos médicos: sei que não virarão a cara à luta quando está em causa o futuro da profissão e da medicina. Sem médicos não há cuidados de saúde. A decisão está nas mãos de cada um de nós. Participemos, votemos e mostremos que a classe médica está viva, unida, determinada e pronta para agir.