Estreia esta quinta-feira “À Sua Imagem”, filme de Thierry De Peretti que nos revela o passado recente da Córsega.
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A Córsega é hoje considerada como um pacífico e deslumbrante destino turístico. Historicamente, é-lhe associado nada menos que a figura de Napoleão Bonaparte, que ali nasceu.
Francesa desde a segunda metade do século XVIII mas ainda com forte herança genovesa, a história recente da ilha, uma das maiores do Mediterrâneo, não é menos conturbada do que o seu passado, sobretudo desde a fundação, em 1976, da FNLC, a Frente Nacional de Libertação da Córsega, que praticou atos violentos e causou várias mortes, nos primeiros anos da sua luta independentista.
É esse o quadro histórico e sociológico de fundo do filme “À Sua Imagem”, baseado num romance de Jérôme Ferrari. Trata-se de um autor corso, o que também acontece com o autor da adaptação, Thierry De Peretti. O realizador continua assim uma obra em que este período tem sido várias vezes abordado, contando mesmo nos seus filmes anteriores algumas histórias verídicas.
Aqui, a personagem central é puramente fictícia, mas podia ter existido. E o título da obra acaba por ter um duplo sentido, já que Antonia é uma jovem fotógrafa. O filme desenrola-se ao longo de um período de cerca de vinte anos, iniciando ainda na década de 1980, quando a protagonista se apaixona por um jovem envolvido em ações independentistas.
É muito curiosa a descoberta do universo deste realizador, que faz um cinema militante mas sem esquecer que tem de contar uma história e de nos familiarizar com as suas personagens. E não advoga nem faz juízos de valor. E mostra uma frescura e uma liberdade que nos fazem pensar na nouvelle vague francesa ou o novo cinema alemão, algures entre os filmes mais políticos de Volker Schlondorff e os mais existencialistas de Wim Wenders.
E nesta singela mas fascinante viagem pela história e pelo cinema, nada mais genuíno que atribuir o papel de protagonista à jovem estreante Clara-Maria Laredo, também ela uma corsa empenhada politicamente…