A viragem à direita nas eleições legislativas de domingo em Portugal, aliada ao crescimento do Chega, é destacada pela imprensa europeia, que ressalva o facto de o resultado só ficar fechado com a contagem dos votos da emigração.
Corpo do artigo
"O centro direita vence por margem mínima as eleições em Portugal e os ultras reclamam entrada no governo", escreve o jornal espanhol "El País", destacando que o Chega ultrapassa o milhão de votos e propõe-se "libertar o país da extrema-esquerda".
O "El País" refere, no entanto, que o resultado, que coloca a Aliança Democrática (AD) em primeiro lugar, seguida de PS e de Chega, só ficará fechado depois da contagem dos votos da emigração, que elegerão quatro deputados.
Em Inglaterra, o "The Guardian" titula: "Eleições em Portugal: aliança de centro-direita reivindica vitória, e rejeita papel da extrema-direita".
O jornal destaca a subida do Chega que elegeu 48 deputados, quadruplicando o número conseguido em 2022, mas refere que, já depois de conhecidos os resultados, o líder da AD, Luís Montenegro, reiterou a promessa eleitoral de "não depender do Chega para governar, ou para fechar quaisquer acordos com os populistas".
O alemão "Der Spiegel" escolheu para título "Mudança à direita nas eleições legislativas antecipadas em Portugal", referindo que os "socialistas sofreram uma derrota amarga" e acrescentando: "Os conservadores estão à frente, mas o grande vencedor é o partido populista de direita Chega".
Na Bélgica, o "Le Soir" também destaca a vitória da direita, e a subida do Chega, "num dos poucos países da Europa que era governado pela esquerda", considerando que a mesma "confirma o crescimento da extrema-direita no velho continente".
"Nova vaga dos populistas"
Na newsletter da manhã desta segunda-feira "Europe Express" do jornal britânico Financial Times, com foco em assuntos europeus, lê-se que "a oposição de centro-direita de Portugal ganhou as eleições parlamentares de ontem [domingo], mas não conseguiu a maioria, uma vez que o apoio ao partido de extrema-direita Chega aumentou, tornando-o num potencial fazedor de reis", tendo grande influência na formação de Governo.
Por seu lado, na newsletter da agência de notícias financeira Bloomberg também focada na "bolha" europeia, lê-se que "o rápido crescimento das forças de direita na Europa continuou ontem [domingo] em Portugal, quando o partido de extrema-direita Chega quadruplicou a sua representação no Parlamento".
"A aliança de centro-direita - AD - obteve o maior número de lugares, derrotando os socialistas, cuja quota de votos caiu, enquanto o Chega conseguiu um forte resultado de terceiro lugar, assegurando cerca de 50 lugares", acrescenta.
Já o jornal online Politico escreve na sua newsletter designada "Brussels Playbook" que, "após quase nove anos no poder e de um escândalo de corrupção que manchou o governo de António Costa, os eleitores portugueses castigaram os socialistas", com "viragem à direita".
Relatando os resultados provisórios de domingo, o Politico aponta que "não há uma maioria clara para nenhuma das forças tradicionais", antevendo que, "após consultas com os líderes partidários, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, deva convidar [Luís] Montenegro a formar governo".
Ainda assim, de acordo com Politico, "a turbulência está à porta", dado que a AD não conquistou maioria absoluta e Luís Montenegro sublinhou que não faria qualquer acordo político com a extrema-direita.
Este jornal fala ainda num "mau dia para os socialistas" nacionais e europeus, dado que agora apenas governam em apenas quatro dos 27 Estados-membros da União Europeia.
O jornal online Euractiv, parceiro da Lusa, aponta na sua newsletter focada em temas dos Estados-membros europeus "The Capitals" que "o eleitorado português não respondeu aos apelos para um voto útil nas eleições legislativas de domingo, resultando no parlamento mais fragmentado de sempre e com o Chega, de extrema-direita, a ser o grande vencedor".
"O Chega, de extrema-direita, quadruplicou o seu poder e ainda não se sabe se as forças dominantes o vão isolar", adianta o Euractiv.
Na mesma linha, o jornal diário belga Le Soir salienta na sua página na internet que, em Portugal, "o parlamento vira-se para a direita, com a extrema-direita em terceiro lugar".
"A três meses das eleições europeias, estas eleições, precipitadas pela demissão do primeiro-ministro cessante António Costa, que não se recandidatou, confirmam que a extrema-direita está a ganhar terreno no Velho Continente", a Europa, escreve o Le Soir.
O também jornal belga La Libre indica que "Portugal vira-se para a direita com a ascensão dos populistas", enquanto a emissora de rádio e televisão pública belga, RTBF, fala numa "vitória apertada do centro-direita e forte impulso populista".
A coligação AD, que junta PSD, CDS e PPM, obteve 79 mandatos, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 eleitos (18,06%).
A IL, o BE e o PAN mantiveram os mandatos, oito, cinco e um respetivamente. Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares, de seis para quatro mandatos.
Por apurar estão os quatro lugares da emigração, que o PS ganhou em 2022, com três mandatos.