A tristeza está estampada no rosto de Jacinta, que não consegue impedir que as lágrimas lhe corram pela face quando fala nos dois netos, de 11 e de 15 anos, desaparecidos, desde o final da tarde de domingo, no mar da praia do Pedrógão, em Leiria.
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Desde então, as equipas envolvidas nas operações de busca e salvamento por mar, por ar e por terra, sob o comando da Capitania do Porto de Nazaré, têm varrido a costa na tentativa de localizar as crianças angolanas.
Sérgio, 11 anos, e Celso, 15 anos, não sabiam nadar. Mas quando viram os amigos do Colégio Dr. Luís Pereira da Costa dentro de água, juntaram-se a eles. A maré estava baixa, pelo que entraram pelo mar adentro até a água lhes dar pelas pernas. Quando a irmã mais velha, de 16 anos, se apercebeu que estavam aflitos, pediu ajuda a um homem, que passava no areal, mas ele também não sabia nadar. Quando voltou a olhar para os irmãos, uma onda passou-lhes por cima da cabeça e deixou de os ver. Foi, então, que pediram socorro.
O relato emocionado é feito ao JN por Jacinta, à porta de casa, em Monte Redondo, a 12 quilómetros de distância da Praia do Pedrógão. Quando os quatro netos, a mais nova das quais com oito anos, foram convidados para irem passear à praia com um casal amigo, nunca imaginou que iam entrar no mar, até porque, além de não saberem nadar, nem sequer tinham levado fato de banho. As roupas, os chinelos e os telemóveis foram-lhe devolvidos no mesmo dia pela Polícia Marítima. Céline Gaspar, presidente da União de Freguesias de Monte Redondo e Carreira, diz que a família angolana, constituída pela avó e pelos quatro netos, se mudou para a freguesia em janeiro. “Integraram-se extremamente bem. Os miúdos frequentam a catequese, os escuteiros e o mais velho joga futebol”, revela a autarca. “São muito bem educados e têm um nível cultural acima da média”, assegura ainda. Os pais vivem no Canadá.
Queda num “fundão”
“Vi uns cinco ou seis jovens dentro do mar, a mais de 50 metros da costa, porque a maré estava baixa”, recorda Ilídio Lopes, proprietário do restaurante A Rocha, com vista sobre todo o areal da Praia do Pedrógão, onde decorrem as buscas pelos jovens. “Achei estranho andarem naquela zona a tomar banho, porque ainda não começou a época balnear e não há nadadores-salvadores, mas pensei que estavam com adultos”, observa. Contudo, só mais tarde soube do acidente.
Pela sua experiência como pescador e conhecedor do mar, conta, por sua vez, Manuel Quiaios, proprietário do restaurante Quebra Mar, na marginal, acredita que os irmãos caíram num “fundão”. O alerta para o desaparecimento dos dois menores foi dado cerca das 17.30 horas de domingo e as buscas começaram cerca de meia hora depois por mar, por ar e por terra.
Às 10.30 horas desta segunda-feira, tinham sido mobilizados para o local um navio da Marinha, uma lancha de salvamento marítimo, um helicóptero e drones. João Lourenço, comandante da Capitania do Porto da Nazaré, adiantou aos jornalistas que havia, ainda, uma mota de água em “prontidão”, caso aparecesse alguma vítima.
“A probabilidade de se encontrar alguém mantém-se. À medida que o tempo vai passando, o perímetro das buscas vai ser alargado”, afirmou João Lourenço. Enquanto aguarda por notícias de Celso e Sérgio, a avó Jacinta mantém fé e esperança de que sejam resgatados do mar com vida. “Jesus também ressuscitou Lázaro depois de quatro dias”, diz, entre lágrimas. Os dois irmãos faziam anos no mesmo dia, no mês de julho.
Homenagem a irmãos
Colegas e professores do Colégio Dr. Luís Pereira da Costa, em Monte Redondo, estiveram ontem nas dunas, junto à praia, a prestar homenagem aos dois irmãos.
Comunidade presente
Jacinta tem sido confortada por várias pessoas da comunidade, entre as quais elementos do colégio, Céline Gaspar, e vizinhos.