Último dia na Coindu: "Mandaram sair mais cedo para nos dispersar e retirar as batas"
O último dia de trabalho na Coindu, em Arcos de Valdevez, ficou esta quinta-feira marcado pela tristeza das trabalhadoras que foram sendo dispensadas ao longo da manhã e à saída penduraram batas no gradeamento da fábrica, que foram retiradas pela segurança.
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O ato simbólico de despedida e protesto pelo encerramento previsto pelas mulheres, que laboravam principalmente no setor da costura daquela unidade de fabrico de capas para automóveis, acabou por não ter a força desejada, face à desmobilização da equipa de "cerca de 100 trabalhadores" do primeiro turno que, numa jornada de trabalho normal, sairiam cerca das 14 horas.
"Começaram a mandar o pessoal sair por fases, a partir das 10 horas, porque estava previsto juntarmo-nos em massa no final do turno. Mandaram embora mais cedo para nos dispersarem. Entretanto um grupo pendurou as batas e, passado um bocado, o porteiro veio recolhê-las. Sentimos que foi uma falta de respeito recolherem assim as batas”, contou Catarina Almeida, de 43 anos, adiantando que já ontem as tinham "tentado demover da ideia" de pendurarem as batas, "para passarem em branco”.
A trabalhadora que deixa a Coindu, ao fim de 23 anos de casa, relatou que houve lágrimas na última jornada de trabalho.
“Estamos todas tristes, porque é o último dia e vamos deixar de nos ver todos os dias. Foi um bocado complicado, com o pessoal a chorar. É uma tristeza. Mas estamos todas com fé no futuro”, disse.
O grupo Coindu, com sede em Joane, Famalicão, encerra hoje a produção em Arcos de Valdevez, com um despedimento coletivo que abrange cerca de 350 trabalhadores, na sua maioria mulheres.
De acordo com algumas trabalhadoras, está previsto para dia 31 de dezembro o pagamento das indemnizações, que inclui além dos direitos, um extra de 17 por cento, que foi negociado com a administração do grupo pelo Sindicato das Industriais Metalúrgicas e Afins (SIMA).
A empresa justificou publicamente o encerramento daquela fábrica com “a deterioração gradual das suas condições financeiras, fruto das condições do mercado” do setor automóvel. A situação “conduziu a uma redução gradual dos projetos atribuídos” à unidade nos Arcos de Valdevez, que “apesar dos intensos e prolongados esforços”, não sobreviveu.
Quanto à recente entrada do Gruppo Mastrotto no capital da empresa, a Coindu afirmou que esta “visa estrategicamente estabilizar a situação, aumentar a competitividade" e "abrir novas oportunidades internacionais”, mantendo “as suas operações, com foco nos segmentos premium do mercado automóvel” na fábrica de Joane.
O SIMA acusou o grupo de “transferir a produção [da unidade que agora encerra] para a Tunísia”.