Silicose desenvolvida pelos operários das pedreiras agrava risco. Tempo decorrido até ao diagnóstico continua elevado.
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A taxa de notificação de tuberculose em Portugal mantém uma curva descendente, mas a um ritmo inferior da média dos parceiros europeus. Respondendo pela terceira taxa mais elevada na Europa. Com particularidades territoriais. Com os concelhos de Marco de Canaveses e Penafiel a registarem uma taxa de notificação por 100 mil habitantes quatro vezes superior à média nacional. Acresce que o atraso no diagnóstico continua elevado.
De acordo com o último relatório de monitorização da Direção-Geral da Saúde (DGS), a que o JN teve acesso, no Marco de Canaveses (60,7 casos/100 mil habitantes no período 2018-2022) e em Penafiel (53,5/100 mil), apesar da silicose ser o fator de risco mais frequente (um terço dos casos), “a proporção de casos diagnosticados em doentes sem fatores de risco é superior à média nacional” – 46,4% contra 31,2%, em 2022.
“São concelhos que temos monitorizado de forma muito apertada, mas não conseguimos baixar significativamente a tuberculose”, explica, ao JN, a diretora do Programa Nacional da Tuberculose. Segundo Isabel Carvalho, “há uma associação com quem tem silicose”, sobretudo trabalhadores das pedreiras. Apostando-se na saúde ocupacional, com “projetos de rastreio nos trabalhadores das pedreiras”, adianta. A que s juntam outros fatores de risco, como o consumo de álcool.
Tratamento e diagnóstico
Relativamente ao sucesso terapêutico, os dados apontam para uma redução de 85% para 77,1% em 2022. Com o abandono (8,8%) e a emigração (5,4%) a pesarem na estatística. Um problema que não é exclusivo de Portugal, preocupando as autoridades europeias.
Um calcanhar de Aquiles continua a ser o tempo decorrido entre o início de sintomas e o diagnóstico. Em 2022, a mediana baixou de 86 dias para 82. Que compara com os 74 dias que se registavam em 2019 ou os 60 em 2010. Atraso que, lê-se no relatório da DGS, “prolonga o período de contagiosidade da doença, que é apenas interrompido com o início da doença”.
Entrevista
Isabel Carvalho, diretora do Programa Nacional para a Tuberculose da DGS
Apesar da descida da incidência, o ritmo é inferior ao da UE. Conseguiremos atingir a meta de reduzir, até 2035, em 90% a taxa?
A maioria dos países à escala mundial não estão a conseguir. É preciso redirecionar a estratégia e focar no problema que é a tuberculose. Portugal não está assim tão mal. Para atingir aquele objetivo teria de reduzir a incidência 5% a 6% ano e está nos 4,4% (2015-22) e a mortalidade 6,7%/ano e está nos 6,2%. Há a necessidade de atuar preventivamente, isso é possível, porque Portugal tem a possibilidade fazer tratamentos curtos e melhorar a adesão ao tratamento preventivo.
No tratamento da doença, a eficácia baixou. Por abandono e por fluxos migratórios?
As duas coisas. Pela mobilidade das populações e também pela duração do tratamento. Em Portugal, uma eficácia de 85% seria excelente. Havendo também dificuldades nos registos. De pessoas que podem ter feito o tratamento e não foi dada validação.
A mediana entre os primeiros sintomas e o diagnóstico mantém-se muito elevada. É preciso mais literacia?
Há uma proporção da população que considera que a tuberculose está erradicada. E temos que pensar nela. Tem que estar entre as primeiras hipóteses, quer para nós, cidadãos; quer para os profissionais de saúde.