Setor do calçado fala em "sintonia" de medidas com o Governo perante tarifas de Trump
Associação do Calçado reuniu-se, esta terça-feira, com o Ministério da Economia para definir estratégias para mitigar aumento das tarifas anunciadas por Trump. APICCAPS aplaude apoios anunciados por Espanha e remete para o Governo comunicação de medidas específicas. EUA são o sexto maior mercado de calçado nacional.
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O "resultado é confidencial" para já, mas haverá, “entre os diversos parceiros associativos e as medidas do Governo, de uma maneira geral, sintonia relativamente ao diagnóstico e às soluções”, afirma o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos (APICCAPS), Paulo Gonçalves.
A entidade, a par das associações que representam a fileira da moda, esteve reunida esta terça-feira, 8 de abril, com o Ministério da Economia para encontrar soluções para mitigar as taxas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos da América à União Europeia e que terão impacto, também, sobre o setor do calçado.
“Os EUA são atualmente o nosso sexto principal mercado, temos crescido e não vamos abandonar o mercado americano”, avança Gonçalves, que vinca que estas medidas de Trump arriscam levar “à redução do consumo e pode penalizar e fazer aumentar os custos”. E se, numa primeira fase, os “primeiros penalizados serão os consumidores americanos”, a imposição de novas tarifas refletir-se-ão em toda a parte.
“Os nossos dois grandes concorrentes [no setor do calçado] chamam-se Itália e Espanha, e estamos na mesma circunstâncias”, vinca o porta-voz da APICCAPS. Espanha anunciou, na quinta-feira, um pacote de 14,1 mil milhões de euros em ajudas e incentivos a empresas para fazer face a tarifas norte-americanas de 20% a produtos importados da União Europeia, a que acrescem as de 25% sobre os setores automóvel, aço e alumínio. Sobre as expectativas para Portugal, Paulo Gonçalves lembra que Espanha "está no mesmo barco" e considera que “o Governo espanhol desenvolveu um conjunto de medidas que nos parecem adequadas e conscientes da realidade”.
Caberá, então, ao executivo português anunciar as medidas, "quando tiver condições" para o fazer, responde o porta-voz da entidade, que quer “apelar à serenidade" e que pede para que "esta guerra comercial não nos cale”.
Se o mercado europeu do calçado está agora na mira, as "taxas recíprocas" aplicadas ao resto do mundo também podem constituir ameaça. Paulo Gonçalves fala numa “preocupação expressiva” e que decorre do futuro dos principais importadores de calçado do mundo, também eles sujeitos a tarifas bem mais pesadas.
“Se a China (com 56% de exportações de calçado) e o Vietname (10%) tiverem mais dificuldades de exportação para os EUA - com taxas mais pesadas -, eles vão fazer mossa noutros mercados”, alerta Gonçalves. “Um efeito colateral que temos muita dificuldade em avaliar e não gostaríamos que acontecesse”, como prossegue Paulo Gonçalves, lembrando que “os dois grandes maiores produtores de calçado farão mais concorrência dentro de portas” da Europa.
Recusando “cenário catastrofista” e rejeitando “medidas protecionistas que ponham em causa a economia e os progressos da humanidade”, Paulo Gonçalves espera, por isso, “ponderação, serenidade e a construção um futuro mais competitivo”.
É que apesar das medidas protecionistas, a intenção é continuar a dar passos nacionais no mercado norte-americano. "Acreditávamos ou acreditamos que, sendo o nosso principal sexto mercado, até ao final da década, a manter a taxa de crescimento que registava, ascenderia ao top 3 ou 4", revela o porta-voz. Sobre o eventual impacto das taxas anunciadas por Trump mediante estas previsões a 2030, não foram reveladas contas.
Esta terça-feira, 8 de abril, foi revelado, em inquérito levado a cabo pela Associação Industrial Portuguesa (AIP), que as empresas portuguesas com relações comerciais com os EUA esperam uma descida da faturação entre os 20% e 35% nos próximos meses e já está a sentir uma redução das encomendas. A AIP, segundo a análise avançada pela agência Lusa, indicou que os setores mais afetados serão a indústria química, produtos minerais, máquinas, têxteis, plásticos e agroalimentar. “É de realçar que dentro destes setores há produtos mais diretamente atingidos que outros”, indicou.
Segundo a AIP, “a estrutura das exportações de bens para os EUA em 2024” foi liderada pela indústria química (inclui farmacêutica), com 24,9%, seguida dos produtos minerais (20,4%), máquinas e aparelhos elétricos (10%), têxteis (8,2%), plástico e borracha (8%), metalúrgica e metalomecânica (5,8%) e madeira (3,9%).
O Ministério da Economia vai continuar a reunir-se com associações empresariais de diversos setores na quarta-feira, 9 de abril, para avaliar "o impacto e as medidas de mitigação" das tarifas que o Presidente dos EUA.
As novas tarifas de Trump são uma tentativa de fazer crescer a indústria dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que punem os países por aquilo que disse serem anos de práticas comerciais desleais.
As novas tarifas foram impostas pelos Estados Unidos sobre todas as importações, com sobretaxas para os países considerados particularmente hostis ao comércio.