São frequentes as análises catastrofistas sobre os riscos da tecnologia entre os mais jovens e não faltam estudos sobre o impacto da exposição aos ecrãs. Estamos igualmente habituados a refletir sobre a desinformação, a superficialidade e os fenómenos abusivos que as redes sociais potenciam - hoje mesmo o JN divulga as multas aplicadas a influencers que abrem espaço a produtos ilegais. Não deixa por isso de merecer igual nota o que as redes vão mostrando de mais positivo e um dos efeitos comprovados é o contributo para a leitura, exatamente o inverso do que muitos anteviam.
Em junho, a comissária do Plano Nacional de Leitura afirmava que mais jovens dos 15 aos 25 anos estavam a trocar o telemóvel pelo livro, à boleia das recomendações no TikTok. Poucas semanas depois, um estudo europeu salientava o peso do YouTube nas escolhas. Esta semana, um inquérito promovido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) confirmou um crescimento na compra de livros, graças ao aumento na faixa entre os 15 e os 35 anos.
Adicionalmente, os jovens leem mais em inglês, o que diz muito das suas qualificações e da visão global do mundo (que necessariamente obrigará a uma visão mais aberta do mercado). Comparativamente, no quadro europeu continuamos a ter índices de leitura muito baixos, mas os sinais de mudança são significativos e encorajadores.
Esta é a geração com mais competências de sempre e discursos alarmistas só podem resultar de uma doença secular, a que quase todos vamos sucumbindo pelo menos pontualmente: a síndrome do velho do Restelo. E os jovens mobilizam-se por causas que consideram relevantes, nomeadamente ambientais. Quando caminhamos a passos largos para os 50 anos de Abril, talvez valha a pena refletir se estamos, os mais velhos, a dar-lhes espaço e exemplos para uma cidadania mais ativa.
Ler é meio caminho andado para ampliar o mundo em que nos movemos e para sabermos pensar de forma crítica e livre. Se os mais jovens estão a ganhar-nos nesse desafio, só pode ser uma boa notícia.

