Executivo e Oposição garantem querer negociar medidas para Orçamento, mas acusações e desconfianças dominam debate Montenegro diz sim a desafio do PS para repensar IRC. E admite alterações no IRS jovem.
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O clima de “guerra fria” entre Governo e PS marcou o debate do estado da nação, com ambas as partes a acusarem-se de não quererem dialogar sobre o Orçamento do Estado (OE) de 2025 e a tentarem forçar cedências mútuas. E até foi o líder do PS, Pedro Nuno Santos, a dar mais o braço a torcer, ao desafiar o primeiro-ministro a “repensar” a estratégia para o IRC - um dos temas que mais os dividem. Luís Montenegro mostrou-se disponível para isso e para “aprimorar” o IRS jovem.
A votação do OE, que ocorrerá em novembro, pode atirar o país para um impasse, caso PS e Chega votem ambos contra. Ontem, já depois de ter ouvido Montenegro a acusar os socialistas de se manterem “intransigentes”, Pedro Nuno alertou: se o Governo “quiser, de forma genuína, evitar eleições antecipadas”, terá de mostrar “disponibilidade para ceder”.
Apostando na força da Oposição num contexto em que o Governo é minoritário, o socialista referiu que, se o PS fizer “avaliação positiva” do OE, viabiliza-o; senão, chumba-o. Da mesma forma, o líder do Chega, André Ventura, avisou que o seu partido “não cede nos valores”.
Lealdade e arrogância
O debate, que durou cinco horas, arrancou com o primeiro-ministro a elencar alguns feitos dos primeiros 100 dias de governação, como o alívio fiscal ou os acordos com professores e polícias. Referiu que o país está “em transformação, que o programa do Executivo continuará a ser executado e que, na Oposição, reina a “confusão”.
Montenegro foi duro com PS e Chega, procurando colá-los à mesma imagem de “irresponsabilidade”. Considerando “inadmissível” que ambos queiram governar através de “arranjos oportunistas”, acusou o partido de Ventura de levar o PS “às cavalitas” e os socialistas de se agarrarem “às costas do Chega para governarem a partir do Parlamento”. E atirou: o PS “comeu o fruto que dizia proibido”, o Chega comeu o fruto “que dizia apodrecido”.
O chefe do Governo frisou ainda que a Oposição tem “um dever de lealdade” com o país, o que levou Pedro Nuno a acusá-lo de “arrogância”. O socialista disse que Montenegro parecia um “líder político em combate”, vincando que a sua função não é pedir lealdade, mas sim “prestar contas” aos deputados.
Ventura devolveu as acusações a Montenegro, acusando-o de ter levado António Costa “às cavalitas” para Bruxelas. Minutos antes, o primeiro-ministro tinha dito que apoiou “com muita honra” a candidatura do antecessor ao Conselho Europeu.
Acusações de usurpação
O debate aqueceu quando Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, acusou a AD de “usurpar” os louros da inauguração da variante da Estrada Nacional 14, entre a Maia e a Trofa, dizendo que esta foi pensada pelo então ministro Pedro Nuno. Implacável, Montenegro respondeu que o PS foi “o maior usurpador de uma herança política” ao criar a geringonça em 2015.
Por entre as muitas acusações, houve tempo para duas garantias de convergência. A primeira ocorreu quando o líder do PS pediu para Montenegro “repensar” em conjunto a “estratégia para o IRC. O primeiro ministro aceitou, mas sempre “no espírito” do seu programa e desde que a disponibilidade socialista não seja “simulada”.
O outro compromisso do Governo surgiu em diálogo com a IL. Montenegro recusou baixar os impostos “de uma assentada”, mas aceitou ouvir as bancadas que queiram “aprimorar” o IRS Jovem.