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Pela terceira vez em três anos, os portugueses vão ser chamados a votar para o Parlamento. Contra a vontade de larga maioria dos eleitores, contra a vontade do presidente da República e contra a vontade dos principais agentes económicos. E, no entanto, a falta de um entendimento adulto entre PSD e PS, traduzida num lamentável ambiente de guerrilha, mergulhou o país numa crise política que, a julgar pelos vários golpes teatrais a que assistimos no hemiciclo, podia ter sido evitada. O Governo e Luís Montenegro forçaram a moção de confiança até à 25ª hora, admitindo retirá-la caso o PS aceitasse uma Comissão Parlamentar de Inquérito de 15 dias à polémica empresa familiar do primeiro-ministro; os socialistas aceitaram falar, mas não abdicaram dos 90 dias. Pelo meio, houve interrupções, tentativas trôpegas de conciliação, em suma, uma encenação excessiva e um empenho redobrado dos principais intervenientes que teria sido avisado usar antes do debate da moção de confiança. Na verdade, a encenação teve um único objetivo: tentar responsabilizar o adversário pela crise, porque ambos (AD e PS) tinham medo de ser castigados pelo povo nas urnas.
E este é o ponto: termos percebido pela amostra que tudo podia ter sido evitado. Que Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos tinham condições para ter resolvido as suas diferenças a tempo. E que o presidente da República terá provavelmente perdido a oportunidade de exercer com outro músculo a sua magistratura de influência junto de ambos. Ninguém sai bem na fotografia.
Depois, o momento em que vamos a eleições não pode ser ignorado. A Europa e o Mundo vivem tempos particularmente desafiantes. E Portugal vai atrasar-se novamente em alguns projetos vitais. Que país sairá de tudo isto é ainda uma incógnita. Mas uma certeza temos: a julgar pelo ambiente de confrontação parlamentar a que assistimos, avizinha-se uma campanha dura, marcada pela expiação da culpa, encabeçada pelos mesmos protagonistas e pelos mesmos problemas. Se assim for, os passos que estaremos a dar no sentido de uma clarificação serão passos perdidos.